quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

"Um Dia"!


Em tempos de repouso, considerando que a leitura sempre foi meu passatempo preferido, nada melhor do que ler tudo que vem pela frente e só sair de casa para buscar mais suprimentos na livraria mais próxima de casa... Há algum tempo vinha namorando um romance chamado “Um dia”, do David Nicholls, que deu origem ao filme de mesmo título lançado recentemente nos cinemas, com a Anne Hathaway (que, by the way, eu adoro).
Ele me chamou atenção por se tratar de um romance narrado pelo próprio casal que se conhece na festa de formatura e meio que encontram um meio de manter-se sempre juntos, mesmo estando separados, sob o manto de uma amizade incondicional.
Tem momentos muito engraçados, já que a narrativa tem lugar em Londres e acompanha o período de amadurecimento de ambos, mais ou menos dos 20 aos 40 anos, quando todo mundo parece se dividir entre a confusão amorosa e a busca de um rumo na vida profissional, o que quase sempre esbarra em muitos enganos, alguns fracassos e desencontros.
O lado cômico, porém, não é o mais interessante, pelo menos para mim...
Gostei mesmo foi de ficar pensando como toda a nossa história pode ser determinada por um encontro, uma pessoa, um dia...e como tudo seria diferente caso aquele evento jamais tivesse ocorrido.
O livro imediatamente me fez pensar na minha própria formatura, quando já namorava o André (que recebeu seu diploma na mesma ocasião) e sentia que nada era tão definitivo e que mil coisas poderiam influenciar nossas vidas e levá-las para lugares diferentes.
A trajetória destes personagens me lembrou tudo que poderia ter nos afastado, mas também me fez pensar como nossa união foi determinante para minha felicidade atual. Hoje, acho que o dia em que nos conhecemos foi determinante para uma série de outras escolhas que viriam em seguida, mesmo que eu nem pensasse, na época, no quanto as opiniões dele e a vontade de estarmos juntos pesava em minha balança.
Claro, todo relacionamento tem sua cota emocional, racional e, creio eu, um certo “escrito nas estrelas”, mas até que ponto nos deixamos levar por cada uma dessas facetas? O que mantém duas vidas entrelaçadas por décadas não é só amor, nem só o comodismo, por que tem que haver algo mais, algo de divertido, de novo, de gostoso na companhia do outro, mesmo no silêncio do domingo de manhã.
A relação de amizade entre os personagens, muito mais do que uma louca paixão, faz com que eles permaneçam um na vida do outro, até nas fases de muita turbulência, porque sentem que podem dividir qualquer coisa, que o outro sempre terá uma visão menos crítica da situação e a capacidade de encontrar uma forma fazê-lo rir de si mesmo.
Adorei ter lido este livro que me fez pensar em tantos momentos inesquecíveis sem os quais a minha vida teria tomado outros rumos...
O livro começa com uma citação de Dickens que eu não conhecia, retirada de “Grandes Esperanças”:

“Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim. Mas isso se dá com qualquer vida. Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido seu percurso sem ele. Faça uma pausa, você que está lendo, e pense na grande corrente de ferro, de ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encadeamento do primeiro elo em um dia memorável”.

Neste natal, que tal pensar nestes dias memoráveis e agradecer pelo que fizeram da nossa vida? Por tudo que nos tornamos? Que tal???

Bjs!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Repartindo o pão!

Esta época do ano é cheia de simbolismos para mim: tenho uma música toda especial que só ouço no natal, tenho uma súbita necessidade de ir à Igreja, agradecer pessoalmente o ano que passou (o que na maior parte do ano faço de casa mesmo...), além daquelas comidinhas que só comemos no fim de ano, sei lá o porquê...

O fato é que a cada ano essas pequenas tradições festivas se tornam mais e mais gostosas para mim. Elas me lembram pessoas, momentos felizes, presentes esperados e surpresas inesquecíveis quase sempre compartilhadas com aqueles que mais amo.

Este ano, em especial, sinto o natal mais vivo do que nunca! A esperança e a expectativa de uma chegada tão desejada me faz vivenciar a felicidade desta comemoração como nunca! O natal está em meu coração, em meus sonhos, no meu desejo de paz, mais do que em qualquer exteriorização ou decoração natalina, que sempre curti tanto!

No entanto, o fim de ano também traz aquelas festinhas de despedida que muitas vezes podem se tornar meio chatas, seja porque reúne gente demais, seja porque a empresa escolheu um lugar desconfortável, seja porque a família do namorado ainda não te deixa tão à vontade...sei lá, sempre tem aquele encontro que a gente vai meio de má vontade, ainda, que nem às paredes confesse!

Neste estado de espírito, esbarrei num conto da Clarice Lispector que me fez pensar um pouco sobre o que torna toda e qualquer festa de fim de ano tão gostosa: a reunião em torno da mesa.

O conto é intitulado: “A repartição dos pães” e integra, originalmente, o livro “A Legião Estrangeira”, mas faz parte de uma coletânea lançada, há relativamente pouco tempo, pela Rocco, trazendo contos de Clarice selecionados por leitores para lá de especiais, como Maria Bethania, Lya Luft, Marina Colasanti, entre outros. Esta coletânea chama-se “Clarice na Cabeceira” e traz antes de cada conto uma pequena introdução elaborada por quem selecionou o texto, explicando porque ele é um dos seus preferidos desta autora.

É uma leitura para relembrar os livros da autora e (por que não?) dar novo sentido ao que foi lido a partir da visão de um outro leitor que escolheu compartilhar sua experiência com Clarice...claro que estou amando o livro!

Como nunca tinha lido este conto, como chegou a mim nesta época e como sei que nada é por acaso resolvi fazer este post para falar só dele!

A autora narra um almoço a que todos se sentem compelidos a comparecer por pura obrigação social, as pessoas não se entrosam, não há qualquer afinidade entre elas, todas se perguntam porque é tão difícil permanecer naquele compromisso, o que faz desta reunião de pessoas um tédio. Até que a anfitriã convida a todos para sentarem à mesa.

Não era uma mesa qualquer, mas uma mesa maravilhosa, com frutas frescas, arranjos de trigo e tudo mais que a terra pode prover em sua plenitude e beleza, conquistando os convidados com os seus sabores, as suas cores e o seu cheiro.

Resultado:

(...)Ninguém falou mal de ninguém porque ninguém falou bem de ninguém. Era reunião de colheita, e fez-se a trégua. Comíamos. Como uma horda de seres vivos, cobriamos gradualmente a terra. Ocupados como quem lavra a existência, e planta, e colhe, e mata, e vive, e morre, e come. Comi com a honestidade de quem não engana o que come: comi aquela comida e não o seu nome. Nunca Deus foi tão tomado pelo que ele é. A comida dizia rude, feliz, austera: come, come e reparte. Aquilo tudo me pertencia, aquela era a mesa de meu pai. Comi sem ternura, comi sem a paixão da piedade. E sem me oferecer à esperança. Comi sem saudade nenhuma. E eu bem valia aquela comida. Porque nem sempre posso ser a guarda de meu irmão, e não posso mais ser minha guarda, ah não me quero mais. E não quero formar a vida porque a existência já existe. Existe como um chão onde nós todos avançamos. Sem uma palavra de amor. Sem uma palavra. Mas teu prazer entende o meu. Nós somos fortes e nós comemos. Pão é amor entre estranhos”.

E essa conclusão parece resumir tudo que realmente sinto quando volto desses encontros, aquela satisfação de ter simplesmente compartilhado um momento de alegria em torno da mesa, ter conhecido um pouco melhor aquele grupo, enfim, por ter avançado um pouco mais na direção do outro.

Mesmo na nossa família, onde nos reunimos em total alegria, será que a mesa de natal, tão caprichada, em que se vê a contribuição de cada um nos partos elaborados, nos arranjos de flores e tudo mais, não tem um poder agregador sobre cada um de nós?

Aqui em casa eu sei que tem... naquele momento em nos sentamos à mesa, não importa mais o que o ano nos trouxe ou nos levou, ali estamos reunidos em um só propósito e um só sentimento: gratidão pelo pão repartido e por estarmos reunidos mais uma vez.

Bjs!!

sábado, 19 de novembro de 2011

De volta pro futuro!

Um romance no estilo de volta pro futuro! Tem coisa melhor? Consegue se imaginar com a cabeça de hoje vivendo num corpo do início do séc. XX? Será que faria as mesmas escolhas? Seria capaz de se reconhecer ou reconhecer um grande amor na pele de outra pessoa?

Neste terceiro trimestre da gravidez tenho certa dificuldade em me concentrar na leitura. Para começar, achar uma posição para ler já é um desafio (porque sentada meus pés incham e deitada sinto falta de ar e não tenho muito jeito para segurar o livro). De qualquer modo, quando o livro é bom, Deus ajuda e a vontade de ler é mais forte que tudo!
Foi assim que consegui terminar esta semana esse romance muito gostoso: “As Esquinas do Tempo” da autora portuguesa Rosa Lobato de Faria, na 5a. Edição, pela Porto Editora, em 2011. A autora, romancista e poetisa, nascida em Lisboa, faleceu em 2010, aos 77 anos, mas nos deixou de herança suas obras muito bem escritas, mostrando uma sensibilidade e uma criatividade capaz de prender esta leitora tão displicente. A propaganda me dizia que este era o livro mais vendido da autora e, lendo, descobri que deve ter sido mesmo!
O Romance é narrado em terceira pessoa, mas em diversos momentos a protagonista parece assumir a narrativa, os diálogos são breves, diretos, mas muito bons, construindo uma ponte entre os dois momentos vividos pela personagem, no passado e no presente. E, justamente, por traduzir uma verdadeira viagem no tempo, com idas e vindas que agitam o leitor, o livro prende a atenção até o fim e nos faz torcer pela realização no presente de uma história de amor sonhada no passado. Como qualquer história, permite muitas interpretações. Sendo a romântica incurável que sou, fiquei o livro todo tentando ler nas entrelinhas um relato de vidas passadas, uma forma de amor predestinado que acabaria, inevitavelmente, se repetindo na vida presente. O final não revela exatamente isso, deixando o enredo suspenso, no ar, como se não tivesse terminado...e, por isso mesmo, surpreende. 

Eu continuei torcendo pelo amor inabalável, capaz de durar para sempre e ainda se reconhecer no outro em circunstâncias totalmente diferentes, quem pode dizer com certeza que jamais existiria algo assim?!

É um romance daqueles que você não tem vontade de parar de ler!
(salvo quando realmente precisa levantar para fazer xixi...aos sete meses, isso acontece muito!!!)

Fica a dica!!


sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O caminho do meio...

Estou sempre às voltas com este tal caminho do meio. Nunca foi tema fácil para mim. Vira e mexe, lá vou eu para o vigilantes do peso em busca do apetite moderado, para a academia buscar o meio termo entre o físico e o mental, para a Universidade na tentativa de manter o equilíbrio entre a teoria e a prática da profissão, para a igreja ou centro espírita quando sinto que estou materialista demais e preciso fortalecer a minha fé... Enfim, sinto em mim uma constante busca por um equilíbrio (que nem sei se é possível) entre os diversos aspectos da minha personalidade.
Talvez por isso tenha sido tão difícil a leitura deste livro: “O Caminho do Meio”, de J. Herculano Pires, 3a. Edição, São Paulo:Editora Paidéia, 2004.


O livro foi escrito em 1948, por isso o contexto histórico conturbado parece influenciar muito a temática escolhida pelo autor. Acho que se hoje eu tenho dificuldades em encontrar o meu caminho do meio, naquele momento o mundo inteiro deveria estar se perguntando se isso seria possível, desejando ardentemente encontrar algum sentido para a palavra harmonia. Em um momento de extremos, como saber onde reside o ponto equidistante entre a guerra absurda e a paz utópica?  
O personagem principal vive a eterna busca pela sua paz interior em três fases: a primeira parte do livro explica sua visão de menino sobre as coisas do céu e da terra. Criado pela mãe em um ambiente muito católico, aos poucos ele percebe que não está disposto a abrir mão da própria sexualidade para tornar-se padre, como parecia ser o seu destino, e decide seguir os passos do pai e começar a trabalhar para ajudar no sustento da casa.
Diante das dificuldades vividas por todo trabalhador humilde, a segunda parte do livro mostra a sua incompreensão quanto às diferenças sociais e econômicas enfrentadas pela sociedade capitalista. Neste ponto do livro, só me lembrava de uma frase que o André ouviu sei lá de quem e que repete sempre aqui em casa: “Para ser um bom social-democrata aos quarenta, é preciso ter sido comunista aos 20 anos!” (Acho que ele fala isso só para me absolver das inúmeras vezes em que aborreci o meu avô defendendo fervorosamente o Fidel Castro nos meus tempos de “Halloween é o cacete: viva a cultura nacional!”)
Já na terceira e última parte do livro, o autor parece encontrar no amor e na espiritualidade seu caminho do meio, entendendo que a sua revolução passava mais por uma transformação interior do que pela violenta luta de classes ou por qualquer outra exteriorização de ideologias mais radicais. Escolhi um pequeno trecho da terceira parte, da pág. 183, para ilustrar o clima de suas reflexões em uma carta enviada à sua amada, que por sinal já vale a leitura:

“O homem é um peregrino estranho, Ana Maria, que parte do fundo de si mesmo para a grande aventura das planícies do mundo. Seduzido pela variedade e o brilho das coisas exteriores, entende que viver é mover-se entre os objetos dos sentidos, e atira-se loucamente à voragem das coisas. Filho pródigo, o legítimo pródigo de que nos fala o Evangelista, um dia ele volta, pelos caminhos palmilhados, cruzando de novo as planícies abertas em que correm os ventos de todos os quadrantes da terra. E chega outra vez a cidadela abandonada de si mesmo, surrado por todos os elementos, coberto por todas as poeiras da caminhada da incerteza”.

Levei uns dois meses para finalmente terminar de ler o livro. Não é uma leitura de entretenimento puro e simples, mas um romance que te faz refletir sobre a própria condição humana e suas fragilidades, suas complexidades. No fim das contas, acho que vale a pena conferir, nem que seja para concluir que o caminho do meio é mesmo o mais difícil de encontrar... e ainda mais difícil de seguir!


Bjs! 

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Só Jesus!

Gente,

   A maternidade pode ser a melhor coisa do mundo, mas quem inventou aquele lance de padecer no paraíso devia estar no último trimestre da gestação! Foi só virar o cabo do sexto mês e toda minha esperança de ter uma boa noite de sono foi ficando cada vez mais distante da realidade. Resultado: durante o dia fico morta de cansada, de péssimo humor e doida para comer um chocolate! Tudo isso tem tornado as leituras mais esporádicas e este blog negligenciado... bateu até um sentimento de culpa, afinal também sou muito maternal em relação a ele! 
   Bem, por conta de uma semana complicadinha em que não consegui nem ir ao estudo do evangelho de quinta-feira (o que me faz muita falta!), acabei escolhendo uma leitura com efeito pra lá de calmante: o livro  "Jesus no Lar", obra psicografada pelo médium Chico Xavier e ditada pelo espírito Neio Lúcio, editada pela Feb (Federação Espírita Brasileira). 
   É um livro de fácil leitura porque foi ditado em vários tópicos, com mensagens sobre temas variados, portanto, quem lê aos poucos (como eu atualmente) pode escolher uma página por semana sem perder o fio da meada. Ele apresenta lições passadas por Jesus aos apóstolos durante as famosas reuniões noturnas na casa de Pedro. Como os ensinamentos partem de questionamentos dos próprios apóstolos, a maioria deles tem tudo a ver com as dificuldades de "gente como a gente"na prática de princípios cristãos no seu cotidiano, como a caridade, o amor ao próximo, a compaixão, etc...
   Eu me identifiquei muito com várias páginas e recomendo fortemente a leitura do livro, principalmente, pela paz que ele traz ao ambiente quando lido em voz alta. Quando terminei de ler hoje a última mensagem fiquei especialmente emocionada com uma oração que vem descrita como a última feita por Jesus antes de partir, encerrando aquele período de reuniões edificantes na casa do pescador. 
   Para provar que não é coisa de grávida que se emociona a toa, vale a pena transcrever a página 211:

"Pai, 
Acende a tua Divina Luz em torno de todos aqueles que te olvidaram a bênção nas sombras da caminhada terrestre. Ampara os que se esqueceram de repartir o pão que lhes sobra na mesa farta. Ajuda aos que não se envergonham de ostentar felicidade ao lado da miséria e do infortúnio. Socorre os que se não lembram de agradecer aos benfeitores. Compadece-te daqueles que dormiram nos pesadelos do vício, transmitindo herança dolorosa aos que iniciam a jornada humana. Levanta os que olvidaram a obrigação de serviço ao próximo. Apieda-te do sábio que ocultou a inteligência entre as quatro paredes do paraíso doméstico. Desperta os que sonham com o domínio do mundo, desconhecendo que a existência na carne é simples minuto entre o berço e o túmulo, à frente da Eternidade. Ergue os que caíram vencidos pelo excesso de conforto material. Corrige os que espalham a tristeza e o pessimismo entre os semelhantes. Perdoa aos que recusaram a oportunidade de pacificação e marcham disseminando a revolta e a indisciplina. Intervém a favor de todos os que se acreditam detentores de fantasioso poder e supõem loucamente absorver-te o juízo, condenando os próprios irmãos. Acorda as almas distraídas que envenenam o caminho dos outros com a agressão espiritual dos gestos intempestivos. Estende paternas mãos a todos os que olvidaram a sentença de morte renovadora da vida que a tua lei lhes gravou no corpo precário. Esclarece os que se perderam nas trevas do ódio e da vingança, da ambição transviada e da impiedade fria, que se acreditam poderosos e livres, quando não passam de escravos, dignos de compaixão, diante de teus sublimes desígnios. Eles todos, Pai, são delinquentes que escapam aos Tribunais da Terra, mas estão assinalados por tua justiça soberana e perfeita, por delitos de esquecimentos, perante o infinito bem".

   A mim só resta o "que assim seja..." já que estou sempre cometendo esses "delitos do esquecimento"!

   Boas leituras!

 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Genética: muita coisa a se pensar...

   A gravidez está me fazendo repensar uma série de temas que já estavam meio consolidados em mim: minha noção de independência (nunca pensei que fosse precisar tanto da minha mãe outra vez, mas a verdade é que me sinto muito mais tranquila com ela bem aqui ao lado!), minha capacidade de relativizar os problemas, redimensionar as preocupações com o futuro e priorizar o presente, enfim, surge uma nova forma de pensar a vida. 
    É aí que entra a genética...
   Eu nunca tinha parado para pensar na influência dela na minha vida, quanto mais na vida de quem ainda nem nasceu. Ocorre que as pessoas começam a te questionar o tempo todo sobre ela: "será que serão gêmeos? Tomara que tenha os olhos do pai, na sua família tem alguém com olhos claros? Será menino ou menina? Sabia que um moderno exame de sangue pode identificar o sexo com apenas algumas semanas de gestação? Já ouviu falar de diagnóstico pré-natal? Vai congelar o sangue do cordão umbilical?"
   E foi assim que comecei a pensar sobre a importância dos exames que estou fazendo hoje para o amanhã da nossa família... mas confesso que faço só os exames recomendados pelo médico, sem nenhuma neurose para antecipar qualquer notícia sobre as características do bebê que, agora, já sei que é um meninão!
   Na verdade, a questão que me parece mais relevante no momento diz respeito ao armazenamento em bancos privados das células tronco contidas no sangue do cordão umbilical. As propagandas no consultório do obstetra querem fazer deste armazenamento uma prova de amor, os amigos que contrataram o serviço também passam a idéia de que a saúde de um filho não tem preço, por isso fica aquela carga emocional nos impelindo a pagar o que for sem nem pensar no assunto. Esse também foi meu primeiro impulso, mas por um acaso da vida acabei esbarrando num livro que me fez pensar um pouco mais sobre o tema. Esta semana terminei de ler "Genética: escolhas que nossos avós não faziam", da Mayana Zatz, publicado este ano pela editora Globo. 
   A autora dispensa apresentações, é uma pesquisadora da USP e colunista da VEJA, cujo trabalho ganhou notoriedade pela constante divulgação na mídia, tornando-a respeitada por todos, inclusive, leitores leigos no assunto, como eu...
   Entre muitas questões éticas trazidas pelas recentes pesquisas no campo da genética, o livro destaca a importância de olhar para estes dilemas científicos do ponto de vista do ser humano, pensando que vantagem um resultado de exame de DNA pode trazer para a sua vida, inclusive, em família. Achei super interessante a noção de aconselhamento genético como a pesquisa que pode ser feita para que uma mulher planeje a sua vida reprodutiva para evitar transmitir à sua prole uma doença recorrente na família, verificando se carrega ou não os genes responsáveis pelo seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo, se a mulher em questão já está em estágio avançado de gravidez, a autora destaca que é preciso comunicar o resultado do exame de uma forma positiva, ressaltando a probabilidade desta característica não ser transmitida ao filho. É muito diferente ouvir que um filho tem 25% de chance de ter uma doença ou que este tem 75% de chance de ser perfeitamente saudável, cabe ao profissional ter a sensibilidade de perceber a diferença que essa notícia pode fazer para a vida da mãe.
   As minhas dúvidas foram sanadas no capítulo 10: "Bancos de cordão umbilical para todos ou só para você?", cujo teor demonstra a importância da doação do cordão a bancos públicos que podem utiliza-lo agora, para a pesquisa ou tratamento de pessoas que estão doentes neste momento. O armazenamento em bancos privados de algo que poderá jamais ser utilizado pelo seu titular não seria o cúmulo do egoísmo? Além disso, mesmo que o titular desenvolva alguma doença e pretenda utilizar as células armazenadas, a verdade é que hoje elas só poderiam ser utilizadas nos mesmos casos em que se realiza o transplante de medula óssea. Não há nenhum tratamento que possa ser feito exclusivamente com células-tronco. 
   A autora chega a afirmar que "guardar o sangue do cordão do bebê em laboratórios particulares é praticamente inútil". Primeiro, porque a maioria dos tratamentos de leucemia e linfomas se resume a quimioterapia, sem necessidade de transplante, segundo, porque nem seria recomendável o tratamento com o sangue da própria pessoa, cujo material genético já possui a predisposição para a doença. 
   Por fim, alguns dados internacionais merecem ser destacados: "Em 2004, o comitê de ética europeu declarou desnecessário o armazenamento do cordão umbilical dos filhos para uso próprio. A França proibiu bancos privados de cordão umbilical por considerá-los improdutivos. A Itália e a Bélgica tomaram a mesma decisão." 
   No Brasil, como já mencionado, o apelo emocional desta prática é tão grande que, ao que tudo indica, ela só deve crescer, virou um negócio da china! 
   Essa leitura me ajudou muito, porque me situou no debate que, até então, eu nem conhecia, mas acima de tudo, acho que contribuiu para que a minha decisão seja melhor informada, mais consciente do que eu realmente estou fazendo de bom por alguém.
     Vale a pena conferir este e outros temas muito polêmicos (adoro!) abordados neste livro.
   Em se tratando da possibilidade de escolha de genes, a fim de que o filho possua características desejadas pelos pais, a autora faz menção ao texto de Khalil Gibran que merece ser transcrito aqui também:

"Seus filhos não são seus filhos. São os filhos e filhas da vida desejando a si mesma. Eles vêm através de vocês, mas não de vocês. E, embora estejam com vocês, não lhes pertencem. Vocês podem lhes dar amor, mas não seus pensamentos, pois eles têm seus próprios pensamentos. Vocês podem lutar para ser como eles, mas não procurem torná-los iguais a vocês. Vocês são o arco de seus filhos são lançados como flechas vivas".



    Fica a dica para uma boa leitura!
    Bjs!!

  


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

História de amor: Pedro e Inês!




Livros sobre história são sempre um grande barato. Quem não se surpreende e se diverte lendo as curiosidades e fatos narrados no livro “1808”, por exemplo? Esse tinha sido o último que li deste gênero antes da viagem, até porque por aqui livros sobre o tema história do Brasil demoram a emplacar, pelo menos esta é a minha primeira impressão. De qualquer modo, chegando no Porto, para um merecido descanso antes de voltar ao Brasil, claro que minha primeira preocupação foi visitar a minha livraria favorita logo ali no centro histórico: Livraria Lello, inaugurada em 1906, tida como a terceira mais bonita da Europa, dizem por lá! Quem quiser sentir-se dentro dela pode visitar este site, com imagens 360°.


Bem, o fato é que essa livraria é o melhor lugar do mundo para se descobrir um livro sobre a história de Portugal, até porque ela faz questão de fazer parte dessa história! Foi lá que encontrei um livro super legal que faz uma análise bem bacana do episódio inesiano da obra de Camões, “Os Lusíadas”. Diga-se de passagem que eu bem que tento ler a obra all by myself, mas em alguns pontos confesso que o vocabulário rebuscado e truncado do séc. XV me derrotam na empreitada... Esse livro vem bem a calhar para quem, como eu, curte muitos trechos da obra de Camões, mas tem certa dificuldade em compreender todo seu sentido. Este episódio tem um apelo especial para mim poque trata da história do herdeiro ao trono de Portugal (D. Pedro I – que não é o que conhecemos por aqui, este seria o D. Pedro IV por lá!) que se apaixona por uma dama de companhia da esposa, chamada Inês de Castro. O casal causou tanto escândalo na corte portuguesa do séc. XIV que o pai de D. Pedro I, Rei Afonso IV, a expulsa de Portugal e, por fim, ordena sua morte. Diz a lenda que D. Pedro I, quando tornou-se Rei, anunciou o casamento secreto com Inês, tornando-a Rainha depois de morta, legitimando sua prole de 3 filhos.

Claro, sendo a romântica incurável que sou, fiquei encantada com a história de uma paixão tão intensa! O povo português adora contar causos sobre as personagens e o fato de envolver a realeza só torna tudo mais empolgante!!

Em Coimbra, onde o casal passou alguns anos vivendo seu amor longe da corte, hoje há um hotel de luxo, a Quinta das Lágrimas, exatamente no local em que viveram. Lá, é possível visitar a fonte que brotou das lágrimas de Inês, morta por ordem do Rei, quando o Princípe estava caçando.



Vale a pena se hospedar por um ou dois dias, só para sentir-se parte desta história!

A igreja de Alcobaça guarda os jazigos de Pedro e Inês, a pedido do Rei, um de frente para o outro, para que, no despertar da eternidade, um fosse a primeira visão do outro. Também rende uma visita muito bacana!



O livro traz o episódio de camões original e, na página ao lado, o mesmo texto parafraseado por Jorge Tavares, de modo que o sentido do texto fica bem mais claro no português de nossos dias, mas sem perdermos o encanto dos versos originais. Achei muito boa a introdução histórica, narrando todos os envolvidos e abordando sua relação com os protagonistas deste drama. Mesmo quem nunca ouviu falar da tragédia, a partir desta breve introdução, consegue captar a emoção por trás de cada verso! Vale a pena a leitura!

Fica a dica: “Linda Inês: O Episódio Inesiano em Os Lusíadas de Luís de Camões”, Introdução e Paráfrase de Jorge Tavares, da Mel Editores.


Boa leitura!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Lendo pelo caminho a fora!

Ufa! Faz tempo que eu não escrevo nada por aqui...mas foi por uma boa razão! Estive andando pelo caminho de Santiago, na Espanha, durante minhas merecidas férias! Eis que pela estrada a fora, fui me descobrindo em estado interessante e na volta: Surpresa!!! Gravidez confirmadíssima pelas imagens lindinhas de meu filhote na tela da ultrassonografia! Até nisso o caminho me ajudou: eu antes tāo insegura quanto ao momento ideal, quanto às condições ideais, voltei mais segura de que nada é por acaso e que o agora é sempre o melhor momento quando a vontade torna-se irresistível. Ao longo de minhas aventuras em busca do meu "eu interior", acabei por descobrir que, na verdade, no meu interior já crescia um outro "eu"...muito menos complexo, muito mais concreto, muito mais fácil de amar! Esse tempo era o que eu precisava para elaborar minha versão mãe que, ao contrário do mito divulgado pela mídia em geral, não veio pronta e acabada, impressa em minha personalidade feminina. Durante muito tempo nem soube se queria ou se seria um dia a mãezona de comercial de margarina e achava uma grande bobagem esse lance de mulher que "nasce pra ser mãe". Foi quando me peguei comendo fruta o dia inteiro, eliminando o café, me preocupando em beber mais água, me preocupando se o sol estava muito forte, que percebi o quanto queria ser mãe. Quando finalmente cheguei à Catedral de Santiago, dos muitos pedidos que carreguei na bagagem, por inúmeros kms, entreguei mesmo só os alheios, aqueles que outras pessoas me encarregaram de levar ao Santo, de mim ele ouviu um único agradecimento pelo presente que sabia que já tinha recebido. 
Bem, além dessa maravilhosa surpresa, o caminho trouxe também muitas leituras inesperadas que hoje compartilho aqui. Digo inesperadas porque, sinceramente, depois do primeiro dia de caminhada vi que seria impossível carregar um livro, por menor que fosse, já que mal aguentava minha mochila média, nem era das maiores! Fiquei até meio triste por abrir mão deste prazer durante tanto tempo...confesso que saí daqui acalentando a vontade de descobrir um ótimo pocket book que eu pudesse ir lendo...mas não deu! É aí que entra o Universo conspirando a meu favor! Sabendo de minha frustração, Deus me enviava um verso aqui, um salmo ali, uma banca de revistas acolá, e pasme: até meu clássico favorito esbarrou comigo em um albergue no meio do nada: "E o Vento Levou..." Não resisti e li o capítulo em que Rhett Butler  deixa Scarlet O'Hara no meio do nada, para seguir o exército praticamente derrotado das tropas do sul durante a Guerra de secessão, não sem antes dar-lhe um beijo daqueles, um dos meus favoritos, inclusive, no cinema! O engraçado é que o livro foi abandonado por algum peregrino italiano, então, o que eu não entendia, imaginava, tentando lembrar da versão original... coisas da vida! Perfeiçāo não dava, né?!
Destaco as passagens lidas em dois momentos muito críticos desta viagem: o primeiro na chegada ao albergue de Burgos, quando me debatia com o sentimento de culpa por ter que pular um trecho da caminhada até Leon, por motivos de cansaço extremo e pelas dificuldades desta etapa, para a qual nāo me sentia apta. 



Mais tarde, depois de encarar uma dura subida ao Cebreiro, fui recompensada por uma passagem da bíblia que estava aberta bem em frente ao banco em que me ajoelhei para rezar na Igreja. 


Destaco apenas essas duas passagens porque de todas foram as mais significativas, por praticamente responderem meus questionamentos e dúvidas no momento em que chegaram a mim, mas quantas vezes nos deparamos com pequenos sinais, verdadeiros recados a nós endereçados, que teimamos em não receber... Que seja a alegria da chegada nossa eterna companheira, a nos motivar sempre a continuar andando, que seja essa alegria a transparecer em nosso semblante, por verdadeiro sentimento emanado de nossos corações, que somente palavras inspiradas por esta alegria de viver sejam proferidas por cada um de nós... para mim, a felicidade só se constrói assim, encarando cada mudança com a alegria da chegada!


Seja bem vindo, meu (minha) filho (a). Sua chegada é minha alegria!


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Fora de mim!

Fora de mim, de Martha Medeiros, relata de maneira reflexiva e bucólica um dos momentos mais temidos pela classe feminina: ser trocada por uma mulher, que a primeira vista, julga-se mais bonita e intelectualmente mais interessante que você. Antes fosse apenas o término de um relacionamento qualquer. Era, na verdade, o fim de uma relação que não deveria ter sido. 
O livro me fez refletir sobre os porquês de pessoas tão opostas, tão antagônicas, se manterem presas em relações fadadas ao insucesso. Porque cargas d água as pessoas insistem em manter um relacionamento fracassado? Se soubéssemos os reais motivos as estantes de auto-ajuda não estariam abarrotadas de livros voltados às problemáticas da vida amorosa. 
Será puro masoquismo? Preguiça de recomeçar? Medo de retomar uma vida “solitária”? Angústia de se imaginar mais uma vez “disponível”? Medo de não “pertencer” a alguém? Medo de não ter pra quem telefonar no fim do dia e contar todos os detalhes da sua rotina, desde o que comeu no almoço ... até o sapo que teve que engolir no trabalho? Medo de não ter por quem e para quem se arrumar? Medo de não construir a família do comercial de margarina (com direito a cachorro, filhos lindos e felizes, marido prestativo e sorridente) e terminar seus dias como titia?? (nada contra, vou adorar ser titia!!! ;-p) Medo de não se encaixar nos ditos padrões normais, em que uma mulher bonita, bem sucedida, já de meia idade, se não estiver em um relacionamento sério possui, de certo, alguma doença altamente contagiosa ou fatalmente algum distúrbio em sua psique. 
Medos, angústias, inquietações intermináveis. Inúmeras são as hipóteses para tentar justificar o injustificável: anular-se por um outro,  que, provavelmente, não merece um décimo de você. Eu não saberia explicar porque existem ainda mulheres que se julgam incapazes de seguir sozinhas. Nascemos e morremos sozinhos. Porque nos julgar tão dependentes do outro? Porque jogar no outro a responsabilidade da nossa vontade de viver, da nossa existência? 
Acredito que a razão desta dependência esteja em um falso amor. Julgamos mal nossos sentimentos. Muitas vezes é difícil distinguir amor, paixão, costume, posse.....
Certa vez li, não lembro bem aonde, que paixão é o fogo do início de qualquer relacionamento, a famosa “química”, que lhes leva a suplicar pela chegada dos momentos em que vocês dois estarão juntos novamente. Amor, se for o caso, é o que resta após o cessar da paixão, e enquanto este perdurar manterá vivo o relacionamento. Amor é o sentimento de querer bem, querer ser para o outro tudo de melhor que você pode ser, dar e receber nas mesmas proporções, querer cuidar e ser cuidado. Dizendo metaforicamente: é a calmaria depois da tempestade. É aceitar o outro como ele é, reconhecendo suas imperfeições e sabendo que suas qualidades subestimam seus defeitos. Mas sabe aquele verso de Vinicius de Moraes “seja eterno enquanto dure”? E como já dizia Cássia Eller “o pra sempre... sempre acaba”. (Acho, modéstia a parte, que sempre é exagero, há amores que podem, sim, durar pra sempre....porque não?....sabe lá....) Mas, quando o amor acaba e fica apenas o hábito, o costume e a pessoa não se move porque simplesmente não “sabe” mais viver sem o companheiro (que, a essa altura, não se pode mais chamar de companheiro), é aí que mora o perigo.
Ou, pior ainda, quando o que julgava ser amor era, catastroficamente, posse doentia. Imagina-se ser dono do outro, possuidor do seu corpo e do seu amor. Aí me lembro do título de um livro da Zíbia Gaspareto, com o qual meu cunhado adora brincar, “ninguém é de ninguém”. Não somos possuidores de nada nesta vida, nem de nós mesmos, que dirá do outro. Amar é um sentimento, que, por sua pureza, nos leva à libertação. Somos livres e quando amamos de verdade alguém, ficaremos com ele apesar de todas as tentações mundanas e o respeitaremos e caminharemos lado a lado unidos até o que “a morte nos separe” (sabemos que não separa coisa nenhuma...a morte não existe, mas isso não vem ao caso agora). Ao passo que se há amor não adianta levar a diante uma relação sem futuro, sem respeito......respeito por si mesmo principalmente. Mas muitas pessoas levam sim a diante.....porque se julgam donas do outro! Estão atreladas a um sentimento quase obsessivo e confundindo-o com amor. Isso porque fica se imaginando sem a risada do outro, que antes era dela e agora é de outra, o beijo que também era dela e agora pertence à outra, os olhos dele agora desejam outra, ou outras...vai saber..., e assim por diante. Esses pensamentos extremamente “martirizantes” a que se submete uma mulher que acabou de ser trocada é capaz de enlouquecer qualquer pessoa sã...credo!!
É evidente que no fim de qualquer relacionamento, e quem já passou por isso sabe bem (mesmo que tenha sido um namoro colegial sem importância ou um casamento nas vésperas de completar bodas de prata), passa-se por etapas do fim. E são estas etapas que o livro retrata de forma fidedigna. No primeiro capítulo, parece que vivenciamos pela personagem toda a dor do término. A fase dos choros intermináveis, da depressão profunda, vontade de se enfiar num buraco e nunca mais ser achada, sente-se a pessoa mais feia e infeliz do universo, come-se tudo o que se vê pela frente... e como a própria personagem narra: todos os carros se parecem com o do “filho da mãe”, todos os pedestres se parecem com ele (um perigo para o trânsito), e se verde fosse sua cor predileta nunca mais você poderia ver esta cor em qualquer objeto sem se lembrar do dito cujo.
Pois bem, no segundo capítulo, a personagem nos esclarece e nos faz entender porque este relacionamento nunca deveria ter sido. Fornece-nos todos os dados da incompatibilidade entre eles. Já no terceiro capítulo ela nos convida para assistir às etapas finais da crise existencial. Momento em que se entende porque não deu certo, não tinha mesmo como dar, como ela desperta novamente para a vida, mesmo sentido falta, saudade, mesmo achando estranho saber que um dia essa pessoa foi tão próxima dela e hoje é a mais distante (isso é mega estranho mesmooo!!hehehe). Mesmo sentindo medo de se entregar de novo para outras relações, ela vai se libertando do fantasma do “falecido”(adorooooo esse termo...ahahahha). 
E, por fim, logo ela que acreditava cegamente no amor único, sublime e eterno, nos confidencia que somos sim capazes de viver muitos amores em uma só vida: 
“(...), nem passava pela minha cabeça que fosse possível amar vários durante uma vida. Eu acreditava no amor único e indissolúvel. Inclusive achava muito transgressora aquela história de “até que a morte nos separe”: nem a morte poderia terminar com um amor verdadeiro.” 
“(...) o amor termina apenas para aquele que morre: quem sobrevive dedica-se a um breve luto e depois volta pra vida – e voltar pra vida quase sempre significa voltar a amar. Sendo assim, aos poucos fui relaxando e aprendendo que somos aptos a amar muitas vezes, de formas diferentes.”
“Não consigo imaginar nada mais satisfatório do que amar, e mesmo não sabendo o que o amor significa, sei o que representa. É o que nos faz, no meio de uma multidão, destacar alguém que se torna essencial para nosso bem estar, e o nosso para o dele. É receber uma atenção exclusiva e ofertá-la na mesma medida. Ter uma intimidade milagrosa com a alma de alguém, com o corpo de alguém, e abrir-se para essa mesma pessoa de um jeito que não se conseguiria jamais abriria para si mesma, porque só o outro é que tem a chave desse cofre. O amor é uma subversão, e seu vigor nunca será encontrado em amizades e parentescos.  Todas as palavras já foram usadas para defini-lo: magia, surpresa, visceralidade, entrega, completude, requinte, deslumbre, sorte, conforto, poesia, aposta, amasso, gozo. Amar prescinde de entendimento.”
Moral da história: ame! Ame intensamente, mas queira também ser amada, ame a si própria em primeiro lugar. Não se deixe anular por uma relação falida, por uma pessoa que, mesmo sem querer, te faz sofrer mutações e aos poucos você não é capaz de reconhecer a si mesma. Pule antes do barco afundar. Grite. Peça socorro. Ou, se possível identificar, nem inicie esse tipo de relação. O que se leva da vida são os momentos, as vivências, então: sejamos felizes (segundo o carol´s way of life.....) enquanto a vida nos deixar.....Não há razão para a clausura em relacionamentos fracassados....Dê o melhor de si para que dê certo....e, se possível, para sempre...mas se não der....cada um pra um lado e dê a cada um o que lhe é de direito. 
Recomendo a leitura!!! Longe dos livros de auto-ajuda, embora possa parecer, o livro enquadra-se na espécie Romance, e eu acrescentaria uma subespécie .... é um romance-dramático. Vale a pena!

Priscilla.
(redatora interina)

Férias!!!

Gente,

Como já comentei em post anterior, estou saindo de férias! Este fim de semana embarco para Madri, onde tem início minha aventura como peregrina!! Ai, que frio na barriga!!! Realmente, muito embora eu esteja muito animada para postar tudo através do meu iPhone, não sei se vou conseguir fazer posts decentes de lá!  Conto com a providência divina para fornecer a rede Wi-fi pelo caminho...hahahahaha.

Bem, neste período, serei carinhosamente substituída pelas minhas fiéis mosqueteiras: Priscilla, minha irmã, e Rosane, mãezona! Fico tranquila porque confio meu Blog a duas pessoas que me conhecem como ninguém e de quebra arrumo uma ocupação para mantê-las quietas em casa sem se preocuparem com minhas andanças! Na minha última viagem, devidamente acompanhada pelo maridão, minha mãe ficou tão preocupada porque não liguei quando cheguei lá que começou a ligar para companhia aérea, descobriu meu hotel devassando meu e-mail e ainda reclamou com a atendente na recepção... Já pensou se ela resolve reclamar direto com o Santo?! Não duvido nada! Quando eu finalmente chegar à Catedral, ao invés do perdão aos pecados, vou receber uma intimação do Santo: pelo amor de Deus, volta logo pra casa minha filha! 

Para evitar maiores transtornos, é melhor ocupar as duas! 

Então, aí vai o primeiro post assinado pela Pris sobre o livro de Marta Medeiros!

Até a volta!!


terça-feira, 14 de junho de 2011

Transição Planetária!

 O período de transição por que o planeta está passando vem causando debates e inúmeras palestras nas casas espíritas. A palestra do Divaldo Franco em abril deste ano, aqui no Citybank hall do Rio de Janeiro, abordou o tema de forma bastante profunda, até porque foi através deste médium que foi psicografado o melhor livro que já li sobre o assunto "Transição Planetária" ditado por Manoel Philomeno de Miranda. O livro explica o cenário espiritual gerado pelo tsunami de 2004, no oceano Índico, como um instrumento necessário à limpeza fluídica pela qual o planeta precisa passar. Este livro também aborda os conflitos mundiais contemporâneos como um reflexo dos sentimentos de revolta e de cobrança arraigados na nossa bagagem histórica, gerados por momentos de matança e de perseguição, como as famosas cruzadas, por exemplo. Achei especialmente interessante o modo como foi descrito o programa de reencarnação na Terra de espíritos de estágio moral bastante elevado provenientes do planeta chamado "Alcíone", com a missão de nos impulsionar a evolução em direção ao mundo de regeneração. No entanto, mesmo tendo adorado o livro, ainda fiquei com algumas dúvidas no que diz respeito ao momento da tão falada "separação do joio do trigo". Ficava pensando: se a Terra tem que virar um planeta de regeneração e se tem gente de todo tipo por aí, como seria feita essa separação, na prática?? Foi aí que a minha amiga Bete divulgou uma trilogia psicografada por André Luiz Ruiz, ditada pelo espírito Lucius, que tem início com o livro: "Despedindo-se da Terra". Confesso que ela me falou desta obra de modo bem enfático (tipo: tem que ler porque não dá pra esperar, é agora ou nunca!) e eu fiquei até meio com medo de ler...mas foi ótimo! Primeiro, porque é um romance, o que já torna tudo muito mais fácil para mim, já que adoro o gênero. Segundo, porque a narrativa é permeada de análises quanto ao comportamento dos personagens que demonstram como suas más escolhas foram ensejando um futuro diferente do que imaginavam, acarretando compromissos difíceis de serem resgatados... Essas passagens foram as mais esclarecedoras para mim, porque as escolhas deles são muitas vezes aquelas com que nós mesmos nos deparamos. O enredo tem por trama central a vida de um grupo de advogados que trabalham no mesmo escritório, obsediados coletivamente por um ex-sócio, revoltado por ter sido assassinado. Em diversas ocasiões percebe-se que entre encarnados e desencarnados, no fundo, sempre há uma opção a ser feita: esforçar-se para merecer um mundo novo ou manter-se na posição mais cômoda, arraigados ao que ainda nos torna tão primitivos, como o orgulho, o egoísmo, a prepotência, a intolerância... Na verdade, acho que só agora estou começando a entender que a separação entre quem fica e quem parte está acontecendo o tempo todo, na medida em que cada um escolhe dar um passo na direção certa ou simplesmente ficar para trás. A Bete tem razão, o momento é de reflexão e de despertar para aquilo que nos faz melhores. Afinal, "ninguém pode voltar no tempo e fazer um novo começo, mas todos podem recomeçar e fazer um novo final" (Chico Xavier).

Assim, já fica aqui a dica de dois bons livros para quem se interessar pelo tema! Agora começo a ler o segundo da trilogia: "Esculpindo o próprio destino"! Quando terminar comento aqui!

domingo, 5 de junho de 2011

Biografias...

  Pode ser coisa de fofoqueira, mas adoro uma biografia! Gosto mais das oficiais, nunca me atraiu esse lance de biografia não autorizada. Afinal, até a fofoca exige um mínimo de ética profissional... Hahaha
  Brincadeiras a parte, acho a autobiografia a melhor espécie deste gênero. As grandes personalidades expondo suas decisões, suas aflições, curiosidades, versões de acontecimentos polêmicos, em geral, tudo isso me atrai bastante!
  A primeira que li foi ainda na adolescência, escrita por Priscilla Presley, "Elvis e eu",  da editora Rocco, obviamente, falando sobre seu casamento com o cantor americano que marcou uma época, Elvis Presley. Como eu o achava lindo e amava tudo que ele cantava, graças à coleção de LPs do meu pai, fiquei encantada em saber sobre a vida amorosa dele!!
  Esta semana acabei me deparando com o livro do Miguel Falabella, "Vivendo em voz alta",  editado pela Lua de Papel, quando esperava o início de uma sessão no cinema! Adoro as peças dele e me senti atraída pela foto da capa, porque acho o olhar dele super expressivo...     Não me arrependi do investimento! Foi uma delícia ler suas crônicas sobre assuntos para lá de pessoais, como bulling, perdas, vida familiar, amizade e saudades... Sua visão de mundo e seu bom humor a respeito da luta cotidiana do brasileiro para manter-se centrado na nossa realidade, às vezes perturbadora, me fizeram lembrar o quanto gosto deste tipo de livro! Sua escrita leve proporciona momentos de uma leitura muito gostosa que combina com tardes chuvosas!! Uma das características que mais gostei foi o clima nostálgico com que ele fala das recordações familiares e da importância de nos conectarmos sempre a este passado, mantendo vivas as coisas boas vividas anonimamente no seio de nosso primeiro ambiente social. Destaco a seguinte passagem de pág. 145:

  "E temos, todos nós, a responsabilidade de manter viva a parte da história que nos coube e cabe. Ainda que sem grandes acontecimentos, ainda que pequena, a chama deve ser bem-vinda. Antes das grandes datas, vêm as histórias anônimas de todos nós, os beijos apaixonados, os gritos de amor desesperado e os olhos no amanhã. Foram eles, em última análise, que construíram isso que chamamos de civilização". 

  Gostei especialmente desta parte, porque trago em mim recordações maravilhosas de momentos e pessoas que me serão sempre caros, não importa o que se tornem, os caminhos que nos afastem, as divergências imponderáveis... o que partilhamos permanece em mim, aquilo que elas foram e o que poderiam ter sido estará sempre em na minha memória. Isso me pertence e carrego de bom grado a responsabilidade de manter viva a chama da minha própria história.
Vale a pena conferir o livro!
http://www.travessa.com.br/VIVENDO_EM_VOZ_ALTA/artigo/28c8b22b-4344-442d-ad92-6e6003c70223
Quem sabe agora retomo a leitura daquela biografia do Tony Blair... mas isso fica para um outro post!!

terça-feira, 31 de maio de 2011

Romance - Nora Roberts

  No meu aniversário só uma coisa é certa: alguém vai me dar um livro. 

  Por que será??!! hahahahahaha...

  Neste ano, claro, a regra se manteve: ganhei um livro da minha irmã, Priscilla, que eu amo de paixão! O problema é que ela não compartilha meu gosto pela leitura e sempre ouve minhas conversas com a mamãe, assim meio ao longe, como se não participasse delas...resultado: ouviu o galo cantar, mas não sabia onde! Falamos alguma coisa sobre romances e pronto: o estrago estava feito, ela entendeu que eu adoraria ganhar um livro da Nora Roberts! Lá foi ela, toda feliz, no dia 09/04, com meu presente em mãos (crente que estava abafando!), que nas palavras dela: "É um lançamento daquela autora que você adoraaaaaaaa!!!!" 

Eis que se tratava de um romance da Nora Roberts, recém-editado pela Harlequin, chamado: "Fora da Lei". 

  Eu já tinha lido uns 3 romances dela há uns seis anos atrás, mais ou menos quando estava terminando a faculdade. Amante do gênero que sou, quando bate aquela vontade escapista de ler qualquer coisa que não tenha a palavra "Direito" no título, recorro primeiro aos romances, desses bem animados, fúteis ou picantes, beirando os eróticos! Todos muito divertidos!!! Enfim, num momento de crise comprei os 3 livros e devorei no fim de semana...não que fossem muito bons, mas porque eu precisava MUITO desestressar naqueles dias...

  Cataloguei a autora na pasta das "muito melosas, com pouca imaginação para cenas amorosas e péssimos diálogos". Nunca mais li nada dela e ponto final.

  Como não troco livros (por princípio, leio tudo que ganho...sabe como é, nada é por acaso!), tive que encarar o "Fora da Lei". Claro, depois de cair na pele da minha irmã (dizendo que ela não entendia nada de romances) e rir muito contando a cena do presente para a minha mãe! Foi ótimo!!!

  Que surpresa... o livro começou com a entediante chegada de uma mocinha do leste ao árido oeste dos E.U.A, em plena corrida pelo ouro. Ela é chatinha e fica desolada ao saber que o pai morreu escavando uma mina de ouro...até aí, tudo bem, nada demais. Agora, quando ela é salva de um ataque indígena por um mercenário, meio apache, forte, alto, moreno, corajoso, despudorado, atrevido e super-protetor, aí sim, o livro despertou minha atenção. Para minha tristeza, as descrições deste personagem tão interessante deixaram a desejar, assim como as cenas em que ele entra em ação, por assim dizer, que poderiam ser bem mais quentes...mas confesso que fiquei uma tarde inteira super distraída lendo as aventuras deste pistoleiro interessante no Arizona de 1875. Para quem busca diversão em um enredo bem água com açúcar, esta pode ser uma boa opção, principalmente, porque o cenário no estilo faroeste do livro puxa pela nossa imaginação e nos transporta aos filmes do John Wayne. Se você curte o estilo...vai se dar bem nesta leitura!

  Pri, eu realmente adorei o presente, falando sério!!! Obrigada, fofa!!



ForadaLei.jpg

terça-feira, 24 de maio de 2011

Fonte viva!

  Toda vez que uma situação difícil se apresenta, em busca do equilíbrio perdido, recorro a este livro: Fonte Viva, ditado pelo espírito Emmanuel e psicografado por Francisco Candido Xavier, editado pela FEB. Ele vem sempre em meu socorro com as palavras certas para os momentos mais incertos... Hoje compartilho a mensagem da página 39, por ser esta a única leitura possível nesta semana:

"ERGAMO-NOS

"Levantar-me-ei e irei ter com meu pai..."  - (Lucas, 15:18)

    Quando o filho pródigo deliberou tornar aos braços paternos, resolveu intimamente levantar-se.
    Sair da cova escura da ociosidade para o campo da ação regeneradora.
    Erguer-se do chão frio da inércia para o calor do movimento reconstrutivo.
    Elevar-se do vale da indecisão para a montanha do serviço edificante.
    Fugir à treva e penetrar a luz.
    Ausentar-se da posição negativa e absorver-se na reestruturação dos próprios ideais.
    Levantou-se e partiu no rumo do Lar Paterno.
    Quantos de nós, porém, filhos pródigos da Vida, depois de estragarmos as mais valiosas oportunidades clamamos pela assistência do Senhor, de acordo com os nossos desejos menos dignos, para que sejamos satisfeitos? Quantos de nós descemos, voluntariamente, ao abismo, e, lá dentro, atolados na sombria corrente de nossas paixões, exigimos que o Todo-Misericordioso se faça presente, ao nosso lado, através de seus divinos mensageiros, a fim de que os nossos caprichos sejam atendidos?
    Se é verdade, no entanto, que nos achamos empenhados em nosso soerguimento, coloquemo-nos de pé e retiremo-nos da retaguarda que desejamos abandonar.
    Aperfeiçoamento pede esforço.
    Panorama dos cimos pede ascensão.
   Se aspiramos ao clima da Vida Superior, adiantemo-nos para a frente, caminhando com os padrões de Jesus.
     - Levantar-me-ei, disse o moço da parábola.
     - Levantemo-nos, repitamos nós."


  Que Deus dê a cada um de nós as forças necessárias para levantarmos uns aos outros, afinal, acho que é esse o melhor modo de concretizar o amor ao próximo. 

  Dias melhores virão!



domingo, 15 de maio de 2011

Lendo sobre o caminho de Santiago



Tendo em vista a proximidade de minhas férias (uhhhuuuu!!!), a ansiedade (minha velha conhecida) bate à minha porta, claro! Para mantê-la sob controle vigiado não tem outro jeito a não ser ler tudo a respeito do meu próximo destino, assim ela se distrai e pára de me atormentar! Eis que dia 24 de junho embarco para Madri e, depois de dois dias (para me refazer do jet lag, porque também sou filha de Deus!), vou de trem para Pamplona e, de lá, pego um ônibus para Roncesvalles. Isso porque nesta pequena cidade, bem perto da fronteira entre Espanha e França, terá início o meu caminho de Santiago. Digo “meu”, assim meio possessivo, porque ele é assim mesmo, pessoal e intransferível...cada um faz o seu, partindo de inúmeros pontos, através de pelo menos cinco rotas diferentes (pelo que sei existem: o caminho francês, português, aragonês, rota primitiva e rota da prata). Devo ressaltar que cada uma destas opções tem atrativos muito peculiares e só a escolha de por onde começar e que rota seguir já foi um parto, porque meu lado turista profissional queria ver tudo, passear por todos os lugares, conhecer todas as rotas, o que por motivos óbvios seria impossível...a menos que a presidenta Dilma resolva dar a todo servidor público uns seis meses de férias! E seria pouco...hahahaha. Bem, além da limitação temporal havia também um fator muito relevante na minha escolha: a distância a ser percorrida. Acho que esqueci de mencionar que o caminho deve ser feito a pé, pois é, andando, passo a passo, sem trapacear (nada de ônibus, carona, etc...), afinal, é uma peregrinação religiosa em busca de autoconhecimento, então, em última análise, não tem cabimento trapacear, porque seria mentir para si mesmo. Depois de considerar todas as opções, decidi: vou fazer o caminho francês, a partir da primeira cidade espanhola - foi assim que cheguei a Roncesvalles! - Então, terei pela frente mais de 700km de caminhada, a serem percorridos em 28 dias (no máximo!), no auge do verão espanhol (temperatura média 38 graus). Não estou bem certa de que esta foi uma sábia decisão, mas acho que vou descobrir em breve... Por outro lado, tenho praticamente certeza de que esta é a melhor coisa que poderia fazer por mim, pelo menos isso, né?! Rsrsrsrs... Sei disso, porque conheço esse caminho de outros carnavais, desde uns quinze anos, mais ou menos, quando minha mãe resolveu fazer aulas de tarot e a professora ( muito querida, tia Miriam)  promoveu uma palestra sobre o assunto com um de seus alunos que já tinha andado por lá. Resumindo: fui de incherida e adorei, fiquei seduzida pela aura de mistério que envolve esse caminho percorrido desde o séc. XII por milhares de pessoas, até alguns santos, como São Francisco de Assis. Naquele momento, o caminho representava minha sonhada liberdade, meu ímpeto aventureiro muito contido pelo cabresto do meu pai (salvo uma ou outra escapada que ele nem desconfia...hihihihi), enfim, a mulher que queria me tornar, mas não sabia como. Hoje, percebo que naquele momento não faria o caminho pelos motivos certos e sou grata por estar diante dele só agora, quando percebo nesta rota um significado muito maior que minha autoafirmação. Sinto que ele pode resgatar em mim aquela centelha divina que todos carregamos, mesmo que escondida sob tantas camadas de verniz social, de stress pela busca do próprio sustento e das preocupações tão superficiais com a aparência. Penso que há um determinado ponto da vida em que somos convidados a desenvolver novas virtudes, como se ela nos cobrasse um retorno do muito que nos oferece. Um convite assim é, simplesmente, irrecusável. Quando Jesus nos diz buscai e achareis, ou no dizer de Sócrates “conhece-te a ti mesmo”, espera algo mais de cada um de nós do que apenas um reflexo de costumes e convenções sociais. Cada pessoa é responsável não apenas pelo que cativa, mas pelo futuro do nosso planeta. Como modificar o exterior, sem reformar o interior? Em busca da minha reforma íntima, da tarefa que me cabe neste mundo, daquilo que ainda preciso aprender para me tornar um ser humano digno da vida que pretendo levar, lá fui eu...procurar mais informações sobre esta rota de peregrinação. 
Muito já foi escrito a respeito do caminho de Santiago. Minha pesquisa, para início de conversa, teve como princípio básico o ditado do momento: o Google é meu pastor e nada me faltará!! Por ele cheguei ao site www.caminhodesantiago.com, conheci a associação brasileira dos amigos do caminho de santiago (fui a algumas reuniões na Casa de Espanha) e, claro, achei livros e mais livros sobre o tema. Aliás, aproveito para lembrar que o site disponibiliza apostilas cujo download é gratuito e que são super úteis, por serem bem mais objetivas que qualquer livro. E aí vai minha bibliografia que, desde já, recomendo para futuros peregrinos:

SHARP, Ana, A Magia do Caminho Real, 8a. Edição, Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

VELOSO, Guy, Via Láctea: pelos caminhos de Santiago de Compostela, 5a. Edição, São Paulo: Sedna, 2007.

TORRES,  Marilu, Santiago de Compostela via Portugal, 2a. Impressão, São Paulo: Panda Books, 2007.

KERKELING, Hape, Volto Já: minha viagem pelo caminho de Santiago de Compostela, São Paulo: Manole, 2009.

REIS, Sergio, O Caminho de Santiago: uma peregrinação ao campo das estrelas, 10a. Edição, Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2008.

LEFERR, Campo das Estrelas, Petrópolis: Catedral das Letras, 2006.

SINGUL, Francisco, O Caminho de Santiago: a peregrinação ocidental na Idade Média, Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999.

RIPOLLI, Lairton Galaschi, Santiago de Compostela: Manual do Peregrino, Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2008.

Escolhi estilos bem variados, sendo os quatro primeiros verdadeiras autobiografias, ou seja, narrativas do ponto de vista muito pessoal de quem já fez o caminho ou parte dele, no estilo mochilão mesmo. 
O livro do Guy Veloso traz as fotos tiradas pelo autor ao longo do caminho, o que considero um plus, porque adoro fotografias de paisagens e as dele sāo muito lindas. Os livros do Sergio Reis e do Leferr, apesar de também serem baseados na experiência pessoal de cada autor, trazem mais informações práticas, além de uma descriçāo detalhada sobre os lugares e pontos históricos por que passaram, o que me foi super esclarecedor em alguns pontos (eu tinha muitas dúvidas quanto às distâncias entre os albergues, a viabilidade de atendimento médico e transportes alternativos durante o caminho que acabaram sendo respondidas nestes livros pelos episódios vivenciados ou testemunhados pelos autores) . O livro do Francisco Singul é uma aula de história e, confesso, tive dificuldade de terminar porque achei cansativo, com uma linguagem bem rebuscada, enfim, um estudo do ponto de vista antropológico sobre esta tradicional peregrinação realizada desde a Idade Média, explicando o seu surgimento, a motivação dos peregrinos, a importância do caminho no contexto religioso da época e o que levou à construção da Catedral de Santiago de Compostela. Por fim, o livro do Lairton é o mais indicado para aqueles que buscam informações rápidas, porém precisas sobre como chegar, condições climáticas, equipamento, despesas, albergues, etc... 
Quem já ouviu falar do caminho de Santiago na mídia, em geral, deve estar se perguntando sobre o famoso livro do Paulo Coelho, "O Diário de um Mago", escrito logo após a sua jornada pela Espanha, que gerou toda uma aura de mistério que o autor gosta de cultivar. Este foi o livro que li por último (terminei esta semana), não por acaso, mas sim porque tenho um certo bloqueio com este autor (o que confesso com uma certa vergonha, já que adoro declarar aos sete ventos que sou uma leitora sem preconceito algum…). Há alguns anos, li "O Alquimista" e achei a mensagem bacana, mas nada que compense ler páginas e mais páginas de uma narrativa lenta e repleta de construções questionáveis. Não vou ficar tecendo comentários sobre erros de ortografia ou gramaticais, porque o português perfeito não é o que mais prezo em um livro, nem tenho competência no assunto para atirar a primeira pedra, mas vou direito ao ponto: a temática. Quem, como eu, esperava ler um livro sobre o caminho acaba de ler meio decepcionado, porque este é apenas um cenário para a conquista de um novo grau de compreensão do autor sobre suas aspirações como membro de uma Tradição religiosa da qual faz parte. Ele faz o que chama de " Estranho Caminho de Santiago" guiado por um mestre desta Tradição, no intuito de encontrar a sua espada (um símbolo de ascensão dentro desta Tradição), sendo que para isso recebe os ensinamentos sobre as práticas de RAM, capazes de melhorar a forma como se relaciona com as energias a sua volta, facilitando a sua busca. Acho que minha maior decepção foi perceber que o caminho em si não era o objetivo da jornada, mas algo que pretendia localizar nele… Quase chorei quando ele achou a bendita espada no Cebreiro e tomou um ônibus para Santiago. O livro terminou e ele não fez a parte do caminho que eu acho mais interessante… para mim a história ficou incompleta. Bem, esta foi a minha humilde percepção do livro. No fim das contas, ele me passou a mesma sensação do escrito pela Shirley Maclaine ("O Caminho: Uma jornada do Espírito", da Editora Sextante), parecia que eu estava lendo um estilo literário meio surreal entre a ficção e a autoajuda, em que os propósitos da peregrinação pareciam ir muito além do autoconhecimento através da realização deste caminho. Muito embora estas obras tenham contribuído muito para divulgar a existência desta rota e, portanto, para mante-la viva, fico me perguntando se não induzem as pessoas a uma peregrinação em busca de revelações que não necessariamente acontecem para todos e que talvez fujam da motivação original dos primeiros peregrinos. Penso que revelações acontecem em todo momento, em qualquer lugar, basta ter "olhos para ver e ouvidos para ouvir", não é preciso buscá-las, mas também acho que, seja lá porque motivo for, a realização deste caminho nunca deve ser em vão, algo tão diferente sempre contribui com algo novo em nossas vidas.
O certo é que mesmo lendo muito e pesquisando documentários sobre o assunto as dúvidas que me restaram são aquelas que só posso sanar lá: Serei capaz de andar tanto (uns 30km/dia)? Será preciso algo mais, além do preparo físico, para conseguir chegar a Santiago? O que aguento carregar em apenas uma mochila? O que é indispensável para minha sobrevivência? Até aonde vai a minha capacidade de me adaptar? Será que é mesmo uma questão só de fé? 
Catedral de Santiago de Compostella - foto publicada no Blog "As minhas viagens" de Maria Barros e Diana Gomes


Por enquanto,  esta me parece uma oportunidade de ter um tempo apenas para conhecer a mim mesma; uma chance de repensar meus objetivos, de redescobrir o que realmente me faz feliz, de entrar em contato com meus medos e minhas esperanças, de ouvir o que há de mais divino em cada ser humano: a própria consciência ou intuição. Quem sabe se nesta peregrinação consigo modificar  aquilo que ainda me afasta do verdadeiro caminho do bem??? Espero que sim…