sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Genética: muita coisa a se pensar...

   A gravidez está me fazendo repensar uma série de temas que já estavam meio consolidados em mim: minha noção de independência (nunca pensei que fosse precisar tanto da minha mãe outra vez, mas a verdade é que me sinto muito mais tranquila com ela bem aqui ao lado!), minha capacidade de relativizar os problemas, redimensionar as preocupações com o futuro e priorizar o presente, enfim, surge uma nova forma de pensar a vida. 
    É aí que entra a genética...
   Eu nunca tinha parado para pensar na influência dela na minha vida, quanto mais na vida de quem ainda nem nasceu. Ocorre que as pessoas começam a te questionar o tempo todo sobre ela: "será que serão gêmeos? Tomara que tenha os olhos do pai, na sua família tem alguém com olhos claros? Será menino ou menina? Sabia que um moderno exame de sangue pode identificar o sexo com apenas algumas semanas de gestação? Já ouviu falar de diagnóstico pré-natal? Vai congelar o sangue do cordão umbilical?"
   E foi assim que comecei a pensar sobre a importância dos exames que estou fazendo hoje para o amanhã da nossa família... mas confesso que faço só os exames recomendados pelo médico, sem nenhuma neurose para antecipar qualquer notícia sobre as características do bebê que, agora, já sei que é um meninão!
   Na verdade, a questão que me parece mais relevante no momento diz respeito ao armazenamento em bancos privados das células tronco contidas no sangue do cordão umbilical. As propagandas no consultório do obstetra querem fazer deste armazenamento uma prova de amor, os amigos que contrataram o serviço também passam a idéia de que a saúde de um filho não tem preço, por isso fica aquela carga emocional nos impelindo a pagar o que for sem nem pensar no assunto. Esse também foi meu primeiro impulso, mas por um acaso da vida acabei esbarrando num livro que me fez pensar um pouco mais sobre o tema. Esta semana terminei de ler "Genética: escolhas que nossos avós não faziam", da Mayana Zatz, publicado este ano pela editora Globo. 
   A autora dispensa apresentações, é uma pesquisadora da USP e colunista da VEJA, cujo trabalho ganhou notoriedade pela constante divulgação na mídia, tornando-a respeitada por todos, inclusive, leitores leigos no assunto, como eu...
   Entre muitas questões éticas trazidas pelas recentes pesquisas no campo da genética, o livro destaca a importância de olhar para estes dilemas científicos do ponto de vista do ser humano, pensando que vantagem um resultado de exame de DNA pode trazer para a sua vida, inclusive, em família. Achei super interessante a noção de aconselhamento genético como a pesquisa que pode ser feita para que uma mulher planeje a sua vida reprodutiva para evitar transmitir à sua prole uma doença recorrente na família, verificando se carrega ou não os genes responsáveis pelo seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo, se a mulher em questão já está em estágio avançado de gravidez, a autora destaca que é preciso comunicar o resultado do exame de uma forma positiva, ressaltando a probabilidade desta característica não ser transmitida ao filho. É muito diferente ouvir que um filho tem 25% de chance de ter uma doença ou que este tem 75% de chance de ser perfeitamente saudável, cabe ao profissional ter a sensibilidade de perceber a diferença que essa notícia pode fazer para a vida da mãe.
   As minhas dúvidas foram sanadas no capítulo 10: "Bancos de cordão umbilical para todos ou só para você?", cujo teor demonstra a importância da doação do cordão a bancos públicos que podem utiliza-lo agora, para a pesquisa ou tratamento de pessoas que estão doentes neste momento. O armazenamento em bancos privados de algo que poderá jamais ser utilizado pelo seu titular não seria o cúmulo do egoísmo? Além disso, mesmo que o titular desenvolva alguma doença e pretenda utilizar as células armazenadas, a verdade é que hoje elas só poderiam ser utilizadas nos mesmos casos em que se realiza o transplante de medula óssea. Não há nenhum tratamento que possa ser feito exclusivamente com células-tronco. 
   A autora chega a afirmar que "guardar o sangue do cordão do bebê em laboratórios particulares é praticamente inútil". Primeiro, porque a maioria dos tratamentos de leucemia e linfomas se resume a quimioterapia, sem necessidade de transplante, segundo, porque nem seria recomendável o tratamento com o sangue da própria pessoa, cujo material genético já possui a predisposição para a doença. 
   Por fim, alguns dados internacionais merecem ser destacados: "Em 2004, o comitê de ética europeu declarou desnecessário o armazenamento do cordão umbilical dos filhos para uso próprio. A França proibiu bancos privados de cordão umbilical por considerá-los improdutivos. A Itália e a Bélgica tomaram a mesma decisão." 
   No Brasil, como já mencionado, o apelo emocional desta prática é tão grande que, ao que tudo indica, ela só deve crescer, virou um negócio da china! 
   Essa leitura me ajudou muito, porque me situou no debate que, até então, eu nem conhecia, mas acima de tudo, acho que contribuiu para que a minha decisão seja melhor informada, mais consciente do que eu realmente estou fazendo de bom por alguém.
     Vale a pena conferir este e outros temas muito polêmicos (adoro!) abordados neste livro.
   Em se tratando da possibilidade de escolha de genes, a fim de que o filho possua características desejadas pelos pais, a autora faz menção ao texto de Khalil Gibran que merece ser transcrito aqui também:

"Seus filhos não são seus filhos. São os filhos e filhas da vida desejando a si mesma. Eles vêm através de vocês, mas não de vocês. E, embora estejam com vocês, não lhes pertencem. Vocês podem lhes dar amor, mas não seus pensamentos, pois eles têm seus próprios pensamentos. Vocês podem lutar para ser como eles, mas não procurem torná-los iguais a vocês. Vocês são o arco de seus filhos são lançados como flechas vivas".



    Fica a dica para uma boa leitura!
    Bjs!!

  


quinta-feira, 1 de setembro de 2011

História de amor: Pedro e Inês!




Livros sobre história são sempre um grande barato. Quem não se surpreende e se diverte lendo as curiosidades e fatos narrados no livro “1808”, por exemplo? Esse tinha sido o último que li deste gênero antes da viagem, até porque por aqui livros sobre o tema história do Brasil demoram a emplacar, pelo menos esta é a minha primeira impressão. De qualquer modo, chegando no Porto, para um merecido descanso antes de voltar ao Brasil, claro que minha primeira preocupação foi visitar a minha livraria favorita logo ali no centro histórico: Livraria Lello, inaugurada em 1906, tida como a terceira mais bonita da Europa, dizem por lá! Quem quiser sentir-se dentro dela pode visitar este site, com imagens 360°.


Bem, o fato é que essa livraria é o melhor lugar do mundo para se descobrir um livro sobre a história de Portugal, até porque ela faz questão de fazer parte dessa história! Foi lá que encontrei um livro super legal que faz uma análise bem bacana do episódio inesiano da obra de Camões, “Os Lusíadas”. Diga-se de passagem que eu bem que tento ler a obra all by myself, mas em alguns pontos confesso que o vocabulário rebuscado e truncado do séc. XV me derrotam na empreitada... Esse livro vem bem a calhar para quem, como eu, curte muitos trechos da obra de Camões, mas tem certa dificuldade em compreender todo seu sentido. Este episódio tem um apelo especial para mim poque trata da história do herdeiro ao trono de Portugal (D. Pedro I – que não é o que conhecemos por aqui, este seria o D. Pedro IV por lá!) que se apaixona por uma dama de companhia da esposa, chamada Inês de Castro. O casal causou tanto escândalo na corte portuguesa do séc. XIV que o pai de D. Pedro I, Rei Afonso IV, a expulsa de Portugal e, por fim, ordena sua morte. Diz a lenda que D. Pedro I, quando tornou-se Rei, anunciou o casamento secreto com Inês, tornando-a Rainha depois de morta, legitimando sua prole de 3 filhos.

Claro, sendo a romântica incurável que sou, fiquei encantada com a história de uma paixão tão intensa! O povo português adora contar causos sobre as personagens e o fato de envolver a realeza só torna tudo mais empolgante!!

Em Coimbra, onde o casal passou alguns anos vivendo seu amor longe da corte, hoje há um hotel de luxo, a Quinta das Lágrimas, exatamente no local em que viveram. Lá, é possível visitar a fonte que brotou das lágrimas de Inês, morta por ordem do Rei, quando o Princípe estava caçando.



Vale a pena se hospedar por um ou dois dias, só para sentir-se parte desta história!

A igreja de Alcobaça guarda os jazigos de Pedro e Inês, a pedido do Rei, um de frente para o outro, para que, no despertar da eternidade, um fosse a primeira visão do outro. Também rende uma visita muito bacana!



O livro traz o episódio de camões original e, na página ao lado, o mesmo texto parafraseado por Jorge Tavares, de modo que o sentido do texto fica bem mais claro no português de nossos dias, mas sem perdermos o encanto dos versos originais. Achei muito boa a introdução histórica, narrando todos os envolvidos e abordando sua relação com os protagonistas deste drama. Mesmo quem nunca ouviu falar da tragédia, a partir desta breve introdução, consegue captar a emoção por trás de cada verso! Vale a pena a leitura!

Fica a dica: “Linda Inês: O Episódio Inesiano em Os Lusíadas de Luís de Camões”, Introdução e Paráfrase de Jorge Tavares, da Mel Editores.


Boa leitura!