domingo, 8 de maio de 2011

Feliz dia das mães!!!

Carta às mães:

Afinal, o que é esse tal de instinto maternal? O que é que faz de algumas mulheres tão mães?? O ato de gerar a vida não tem nada a ver com isso, meu questionamento está muito além do mundo físico... o que me pergunto é o que transforma uma mulher em mãe, aquele ser devotado à felicidade de um outro ser, que pode ter sido ou não gerado por ela. Genitora é um conceito simples e matemático como 1+1=2, mas maternidade é uma noção bem diferente. Andando pelo mundo, neste dilema feminino do séc. XXI: filhos, ter ou não ter, eis a questão!, me deparei meio sem querer com a imagem da Pietá (que na minha ignorância não sabia que ficava na Basílica de São Pedro). Ali compreendi que maternidade é um chamado, não só do relógio biológico, mas da alma. Quando minha mãe falava que me criava para o mundo, eu achava a maior graça e ria... mas a beleza da maternidade está exatamente nisso: na renúncia, na capacidade de criar, educar, instruir, amar mais do que tudo uma vida, sabendo que ela vai tornar-se independente, vai fazer as próprias escolhas, vai seguir um caminho só dela, que nem sempre é aquele que estava no script original. Olhando para Pietá, senti um amor profundo por todas as mães (que deve emanar dela, porque nem sei se sou capaz de amar assim). Sempre digo "eu te amo"para minha mãe, mas não posso perder a oportunidade de dizer novamente aqui no blog, até porque ninguém fica mais empolgada que ela com esses posts (muito engraçado!!): mãe, vc não existe!!! Te amo muito!!! Obrigada por todas as renúncias, por tudo, sempre!!!

Para celebrar o dia das mães escolhi compartilhar um texto da Lya Luft, uma de minhas autoras favoritas.  Divirtam-se!

A canção de qualquer mãe
"Filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei
ou mereci ou imaginei ter"
Que nossa vida, meus filhos, tecida de encontros e desencontros, como a de todo mundo, tenha por baixo um rio de águas generosas, um entendimento acima das palavras e um afeto além dos gestos – algo que só pode nascer entre nós. Que quando eu me aproxime, meu filho, você não se encolha nem um milímetro com medo de voltar a ser menino, você que já é um homem. Que quando eu a olhe, minha filha, você não se sinta criticada ou avaliada, mas simplesmente adorada, como desde o primeiro instante. 

Que, quando se lembrarem de sua infância, não recordem os dias difíceis (vocês nem sabiam), o trabalho cansativo, a saúde não tão boa, o casamento numa pequena ou grande crise, os nervos à flor da pele – aqueles dias em que, até hoje arrependida, dei um tapa que ainda agora dói em mim, ou disse uma palavra injusta. Lembrem-se dos deliciosos momentos em família, das risadas, das histórias na hora de dormir, do bolo que embatumou, mas que vocês, pequenos, comeram dizendo que estava maravilhoso. Que pensando em sua adolescência não recordem minhas distrações, minhas imperfeições e impropriedades, mas as caminhadas pela praia, o sorvete na esquina, a lição de casa na mesa de jantar, a sensação de aconchego, sentados na sala cada um com sua ocupação.
Que quando precisarem de mim, meus filhos, vocês nunca hesitem em chamar: mãe! Seja para prender um botão de camisa, ficar com uma criança, segurar a mão, tentar fazer baixar a febre, socorrer com qualquer tipo de recurso, ou apenas escutar alguma queixa ou preocupação. Não é preciso constrangerem-se de ser filhos querendo mãe, só porque vocês também já estão grisalhos, ou com filhos crescidos, com suas alegrias e dores, como eu tenho e tive as minhas. Que, independendo da hora e do lugar, a gente se sinta bem pensando no outro. Que essa consciência faça expandir-se a vida e o coração, na certeza de que aquela pessoa, seja onde for, vai saber entender; o que não entender vai absorver; e o que não absorver vai enfeitar e tornar bom.
Que quando nos afastarmos isso seja sem dilaceramento, ainda que com passageira tristeza, porque todos devem seguir seu caminho, mesmo que isso signifique alguma distância: e que todo reencontro seja de grandes abraços e boas risadas. Esse é um tipo de amor que independe de presença e tempo. Que quando estivermos juntos vocês encarem com algum bom humor e muita naturalidade se houver raízes grisalhas no meu cabelo, se eu começar a repetir histórias, e se tantas vezes só de olhar para vocês meus olhos se encherem de lágrimas: serão apenas de alegria porque vocês estão aí. Que quando pareço mais cansada vocês não tenham receio de que eu precise de mais ajuda do que vocês podem me dar: provavelmente não precisarei de mais apoio do que do seu carinho, da sua atenção natural e jamais forçada. E, se precisar de mais que isso, não se culpem se por vezes for difícil, ou trabalhoso ou tedioso, se lhes causar susto ou dor: as coisas são assim. Que, se um dia eu começar a me confundir, esse eventual efeito de um longo tempo de vida não os assuste: tentem entrar no meu novo mundo, sem drama nem culpa, mesmo quando se impacientarem. Toda a transformação do nascimento à morte é um dom da natureza, e uma forma de crescimento.
Que em qualquer momento, meus filhos, sendo eu qualquer mãe, de qualquer raça, credo, idade ou instrução, vocês possam perceber em mim, ainda que numa cintilação breve, a inapagável sensação de quando vocês foram colocados pela primeira vez nos meus braços: misto de susto, plenitude e ternura, maior e mais importante do que todas as glórias da arte e da ciência, mais sério do que as tentativas dos filósofos de explicar os enigmas da existência. A sensação que vinha do seu cheiro, da sua pele, de seu rostinho, e da consciência de que ali havia, a partir de mim e desse amor, uma nova pessoa, com seu destino e sua vida, nesta bela e complicada terra. E assim sendo, meus filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei ou mereci ou imaginei ter.
Coluna de Lya Luft na Revista Veja, Edição 2164, (12/05/2010).

4 comentários:

  1. lindo texto.. esse foi o meu primeiro de mtos dias das mães.. agora entendo como minha mae se sente ate hj com nós os filhos.. bjs e bom fds

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  2. Parabéns, Leticia!! Dizem que a gente só compreende de verdade os pais quando tem os próprios filhos...eu ainda estou pensando a respeito...hahahaha. Que bom que gostou da minha homenagem às mães! Fiquei muito feliz em vê-la por aqui! Bjs!!

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  3. querida filha,adorei sua homenagem às mães , é muito gratificante quando percebemos que o nosso amor e dedicação é retribuído com palavras tão carinhosas,porém reconheço que Deus foi benevolente ao me emprestar três almas tão maravilhosas nessa encarnação como filhas . Agradeço todos os dias por eu ter tido como exemplo de maternidade a minha própria mãe, eu tentei aprender com ela o valor da palavra mãe. beijos! Rosane. Até breve.

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  4. Carol,

    Como você sabe sou fã da Lya Luft há muito tempo.
    Seus escritos são sempre sobre situações que vivenciamos no nosso dia a dia e suas posições,sempre racionais mas sem perder a doçura que precisamos tanto .
    Com certeza você ainda vivenciará muito do que lemos nesta crônica.........Bjs Beth

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