sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O caminho do meio...

Estou sempre às voltas com este tal caminho do meio. Nunca foi tema fácil para mim. Vira e mexe, lá vou eu para o vigilantes do peso em busca do apetite moderado, para a academia buscar o meio termo entre o físico e o mental, para a Universidade na tentativa de manter o equilíbrio entre a teoria e a prática da profissão, para a igreja ou centro espírita quando sinto que estou materialista demais e preciso fortalecer a minha fé... Enfim, sinto em mim uma constante busca por um equilíbrio (que nem sei se é possível) entre os diversos aspectos da minha personalidade.
Talvez por isso tenha sido tão difícil a leitura deste livro: “O Caminho do Meio”, de J. Herculano Pires, 3a. Edição, São Paulo:Editora Paidéia, 2004.


O livro foi escrito em 1948, por isso o contexto histórico conturbado parece influenciar muito a temática escolhida pelo autor. Acho que se hoje eu tenho dificuldades em encontrar o meu caminho do meio, naquele momento o mundo inteiro deveria estar se perguntando se isso seria possível, desejando ardentemente encontrar algum sentido para a palavra harmonia. Em um momento de extremos, como saber onde reside o ponto equidistante entre a guerra absurda e a paz utópica?  
O personagem principal vive a eterna busca pela sua paz interior em três fases: a primeira parte do livro explica sua visão de menino sobre as coisas do céu e da terra. Criado pela mãe em um ambiente muito católico, aos poucos ele percebe que não está disposto a abrir mão da própria sexualidade para tornar-se padre, como parecia ser o seu destino, e decide seguir os passos do pai e começar a trabalhar para ajudar no sustento da casa.
Diante das dificuldades vividas por todo trabalhador humilde, a segunda parte do livro mostra a sua incompreensão quanto às diferenças sociais e econômicas enfrentadas pela sociedade capitalista. Neste ponto do livro, só me lembrava de uma frase que o André ouviu sei lá de quem e que repete sempre aqui em casa: “Para ser um bom social-democrata aos quarenta, é preciso ter sido comunista aos 20 anos!” (Acho que ele fala isso só para me absolver das inúmeras vezes em que aborreci o meu avô defendendo fervorosamente o Fidel Castro nos meus tempos de “Halloween é o cacete: viva a cultura nacional!”)
Já na terceira e última parte do livro, o autor parece encontrar no amor e na espiritualidade seu caminho do meio, entendendo que a sua revolução passava mais por uma transformação interior do que pela violenta luta de classes ou por qualquer outra exteriorização de ideologias mais radicais. Escolhi um pequeno trecho da terceira parte, da pág. 183, para ilustrar o clima de suas reflexões em uma carta enviada à sua amada, que por sinal já vale a leitura:

“O homem é um peregrino estranho, Ana Maria, que parte do fundo de si mesmo para a grande aventura das planícies do mundo. Seduzido pela variedade e o brilho das coisas exteriores, entende que viver é mover-se entre os objetos dos sentidos, e atira-se loucamente à voragem das coisas. Filho pródigo, o legítimo pródigo de que nos fala o Evangelista, um dia ele volta, pelos caminhos palmilhados, cruzando de novo as planícies abertas em que correm os ventos de todos os quadrantes da terra. E chega outra vez a cidadela abandonada de si mesmo, surrado por todos os elementos, coberto por todas as poeiras da caminhada da incerteza”.

Levei uns dois meses para finalmente terminar de ler o livro. Não é uma leitura de entretenimento puro e simples, mas um romance que te faz refletir sobre a própria condição humana e suas fragilidades, suas complexidades. No fim das contas, acho que vale a pena conferir, nem que seja para concluir que o caminho do meio é mesmo o mais difícil de encontrar... e ainda mais difícil de seguir!


Bjs! 

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