terça-feira, 10 de setembro de 2019

Porque até a raiva tem utilidade!

Se tem um tema que eu sempre tive certa dificuldade em lidar é a raiva. 

Primeiro, porque sempre achei que ter raiva era um sinal de atraso, uma coisa ruim mesmo.

Segundo, porque quando me bate a raiva, ela vem em forma de explosão incontrolável e, normalmente, se espalha ao meu redor.

E, por fim, porque ela tem o péssimo hábito de ficar em mim, como hóspede indesejado, incomodando...

A gente medita, né?

Tenta transcender...mas sem realmente entender de onde ela veio e a que veio, sei por experiência própria, fica difícil se despedir dela.

E a raiva mal resolvida fica ali adormecida em forma de mágoa, um peso desnecessário nessa vida já tão atribulada.

O caminho fica tão mais leve se buscamos nos compreender. Amorosamente observar: qual o aprendizado que esse sentimento veio trazer nesse momento?

Cada inconveniente ou discussão que nos desperta a raiva também pode servir de instrumento para o nosso autoconhecimento, tão necessário para nos livrarmos dela mais tarde.

É impossível não sentir raiva em nenhum momento do dia ou da vida, numa perspectiva maior, porque criamos tantas expectativas e a perfeição não é desse mundo, né? 

Lidar com as frustrações sem se abalar é o desafio máximo para qualquer pessoa.

Agora, é possível aceitar o sentimento, sentir a tal da raiva mesmo, deixar explodir e observar o que causou essa sensação para, então, fazer alguma coisa a respeito do que nos incomoda verdadeiramente.

Fazer da raiva um processo de descoberta e o início de uma grande mudança não parece tão ruim.

Até o ser humano mais pacífico do mundo, Gandhi, sentia raiva e sabia também como utilizá-la em seu proveito, como força para o progresso.

Lendo esse livro "A Virtude da Raiva" de Arun Gandhi, neto do eterno pacifista, publicado pela Sextante, resta uma conclusão maravilhosa: nem sempre a raiva é uma coisa ruim, a ser negada ou esmagada como um incômodo mosquito a perturbar a sua paz.

Se é pra sentir raiva, que seja em toda sua plenitude, aproveitando a força que vem dela para um impulso transformador daquilo que aparentemente vc nem sabia que te incomodava tanto...mas incomoda sim!

A visão de um neto rebelde e impulsivo sobre um avô pra lá de manso e pacífico que o ensina a lidar com toda a raiva de forma produtiva é um caminho para qualquer pessoa lidar com as próprias contradições, com seus próprios inconformismos, para chegar a uma versão melhor de si mesmo.

Acho, agora, que a raiva vai existir sempre e que evoluir não é sentir só alegria o tempo todo, mas saber reconhecer e transformar algo tão à flor da pele em força a ser empregada positivamente na nossa vida.

Aceitar, falar sobre ela, transformar em impulso para uma atitude diferente, são ações que podem fazer da raiva uma virtude.

Esse me pareceu um bom livro para buscar nessa semana em que a raiva parece tão intensa de qualquer ângulo que se olhe a situação...e justamente em meio a um ambiente tão transformador, como a Bienal do Livro sempre foi (e sempre será). 

É preciso um certo esforço para não simplesmente reagir, mas racionalizar o sentimento e ver como podemos fazer disso uma coisa positiva.  Embora não seja o mais fácil, é um caminho para retomar o diálogo...enquanto estamos só reagindo inflamadamente a tudo de errado que nos cerca parece que não conseguimos sair desse sentimento negativo instalado no inconsciente coletivo.

Precisamos fazer da indignação um mecanismo, um instrumento, não um limitador que nos isole e impeça de continuar se relacionando nesse mundo...

Já que não se pode viver sem sentir raiva, melhor tentar fazer dela uma aliada. #fica_a_dica


                                      




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