quarta-feira, 22 de junho de 2011

Fora de mim!

Fora de mim, de Martha Medeiros, relata de maneira reflexiva e bucólica um dos momentos mais temidos pela classe feminina: ser trocada por uma mulher, que a primeira vista, julga-se mais bonita e intelectualmente mais interessante que você. Antes fosse apenas o término de um relacionamento qualquer. Era, na verdade, o fim de uma relação que não deveria ter sido. 
O livro me fez refletir sobre os porquês de pessoas tão opostas, tão antagônicas, se manterem presas em relações fadadas ao insucesso. Porque cargas d água as pessoas insistem em manter um relacionamento fracassado? Se soubéssemos os reais motivos as estantes de auto-ajuda não estariam abarrotadas de livros voltados às problemáticas da vida amorosa. 
Será puro masoquismo? Preguiça de recomeçar? Medo de retomar uma vida “solitária”? Angústia de se imaginar mais uma vez “disponível”? Medo de não “pertencer” a alguém? Medo de não ter pra quem telefonar no fim do dia e contar todos os detalhes da sua rotina, desde o que comeu no almoço ... até o sapo que teve que engolir no trabalho? Medo de não ter por quem e para quem se arrumar? Medo de não construir a família do comercial de margarina (com direito a cachorro, filhos lindos e felizes, marido prestativo e sorridente) e terminar seus dias como titia?? (nada contra, vou adorar ser titia!!! ;-p) Medo de não se encaixar nos ditos padrões normais, em que uma mulher bonita, bem sucedida, já de meia idade, se não estiver em um relacionamento sério possui, de certo, alguma doença altamente contagiosa ou fatalmente algum distúrbio em sua psique. 
Medos, angústias, inquietações intermináveis. Inúmeras são as hipóteses para tentar justificar o injustificável: anular-se por um outro,  que, provavelmente, não merece um décimo de você. Eu não saberia explicar porque existem ainda mulheres que se julgam incapazes de seguir sozinhas. Nascemos e morremos sozinhos. Porque nos julgar tão dependentes do outro? Porque jogar no outro a responsabilidade da nossa vontade de viver, da nossa existência? 
Acredito que a razão desta dependência esteja em um falso amor. Julgamos mal nossos sentimentos. Muitas vezes é difícil distinguir amor, paixão, costume, posse.....
Certa vez li, não lembro bem aonde, que paixão é o fogo do início de qualquer relacionamento, a famosa “química”, que lhes leva a suplicar pela chegada dos momentos em que vocês dois estarão juntos novamente. Amor, se for o caso, é o que resta após o cessar da paixão, e enquanto este perdurar manterá vivo o relacionamento. Amor é o sentimento de querer bem, querer ser para o outro tudo de melhor que você pode ser, dar e receber nas mesmas proporções, querer cuidar e ser cuidado. Dizendo metaforicamente: é a calmaria depois da tempestade. É aceitar o outro como ele é, reconhecendo suas imperfeições e sabendo que suas qualidades subestimam seus defeitos. Mas sabe aquele verso de Vinicius de Moraes “seja eterno enquanto dure”? E como já dizia Cássia Eller “o pra sempre... sempre acaba”. (Acho, modéstia a parte, que sempre é exagero, há amores que podem, sim, durar pra sempre....porque não?....sabe lá....) Mas, quando o amor acaba e fica apenas o hábito, o costume e a pessoa não se move porque simplesmente não “sabe” mais viver sem o companheiro (que, a essa altura, não se pode mais chamar de companheiro), é aí que mora o perigo.
Ou, pior ainda, quando o que julgava ser amor era, catastroficamente, posse doentia. Imagina-se ser dono do outro, possuidor do seu corpo e do seu amor. Aí me lembro do título de um livro da Zíbia Gaspareto, com o qual meu cunhado adora brincar, “ninguém é de ninguém”. Não somos possuidores de nada nesta vida, nem de nós mesmos, que dirá do outro. Amar é um sentimento, que, por sua pureza, nos leva à libertação. Somos livres e quando amamos de verdade alguém, ficaremos com ele apesar de todas as tentações mundanas e o respeitaremos e caminharemos lado a lado unidos até o que “a morte nos separe” (sabemos que não separa coisa nenhuma...a morte não existe, mas isso não vem ao caso agora). Ao passo que se há amor não adianta levar a diante uma relação sem futuro, sem respeito......respeito por si mesmo principalmente. Mas muitas pessoas levam sim a diante.....porque se julgam donas do outro! Estão atreladas a um sentimento quase obsessivo e confundindo-o com amor. Isso porque fica se imaginando sem a risada do outro, que antes era dela e agora é de outra, o beijo que também era dela e agora pertence à outra, os olhos dele agora desejam outra, ou outras...vai saber..., e assim por diante. Esses pensamentos extremamente “martirizantes” a que se submete uma mulher que acabou de ser trocada é capaz de enlouquecer qualquer pessoa sã...credo!!
É evidente que no fim de qualquer relacionamento, e quem já passou por isso sabe bem (mesmo que tenha sido um namoro colegial sem importância ou um casamento nas vésperas de completar bodas de prata), passa-se por etapas do fim. E são estas etapas que o livro retrata de forma fidedigna. No primeiro capítulo, parece que vivenciamos pela personagem toda a dor do término. A fase dos choros intermináveis, da depressão profunda, vontade de se enfiar num buraco e nunca mais ser achada, sente-se a pessoa mais feia e infeliz do universo, come-se tudo o que se vê pela frente... e como a própria personagem narra: todos os carros se parecem com o do “filho da mãe”, todos os pedestres se parecem com ele (um perigo para o trânsito), e se verde fosse sua cor predileta nunca mais você poderia ver esta cor em qualquer objeto sem se lembrar do dito cujo.
Pois bem, no segundo capítulo, a personagem nos esclarece e nos faz entender porque este relacionamento nunca deveria ter sido. Fornece-nos todos os dados da incompatibilidade entre eles. Já no terceiro capítulo ela nos convida para assistir às etapas finais da crise existencial. Momento em que se entende porque não deu certo, não tinha mesmo como dar, como ela desperta novamente para a vida, mesmo sentido falta, saudade, mesmo achando estranho saber que um dia essa pessoa foi tão próxima dela e hoje é a mais distante (isso é mega estranho mesmooo!!hehehe). Mesmo sentindo medo de se entregar de novo para outras relações, ela vai se libertando do fantasma do “falecido”(adorooooo esse termo...ahahahha). 
E, por fim, logo ela que acreditava cegamente no amor único, sublime e eterno, nos confidencia que somos sim capazes de viver muitos amores em uma só vida: 
“(...), nem passava pela minha cabeça que fosse possível amar vários durante uma vida. Eu acreditava no amor único e indissolúvel. Inclusive achava muito transgressora aquela história de “até que a morte nos separe”: nem a morte poderia terminar com um amor verdadeiro.” 
“(...) o amor termina apenas para aquele que morre: quem sobrevive dedica-se a um breve luto e depois volta pra vida – e voltar pra vida quase sempre significa voltar a amar. Sendo assim, aos poucos fui relaxando e aprendendo que somos aptos a amar muitas vezes, de formas diferentes.”
“Não consigo imaginar nada mais satisfatório do que amar, e mesmo não sabendo o que o amor significa, sei o que representa. É o que nos faz, no meio de uma multidão, destacar alguém que se torna essencial para nosso bem estar, e o nosso para o dele. É receber uma atenção exclusiva e ofertá-la na mesma medida. Ter uma intimidade milagrosa com a alma de alguém, com o corpo de alguém, e abrir-se para essa mesma pessoa de um jeito que não se conseguiria jamais abriria para si mesma, porque só o outro é que tem a chave desse cofre. O amor é uma subversão, e seu vigor nunca será encontrado em amizades e parentescos.  Todas as palavras já foram usadas para defini-lo: magia, surpresa, visceralidade, entrega, completude, requinte, deslumbre, sorte, conforto, poesia, aposta, amasso, gozo. Amar prescinde de entendimento.”
Moral da história: ame! Ame intensamente, mas queira também ser amada, ame a si própria em primeiro lugar. Não se deixe anular por uma relação falida, por uma pessoa que, mesmo sem querer, te faz sofrer mutações e aos poucos você não é capaz de reconhecer a si mesma. Pule antes do barco afundar. Grite. Peça socorro. Ou, se possível identificar, nem inicie esse tipo de relação. O que se leva da vida são os momentos, as vivências, então: sejamos felizes (segundo o carol´s way of life.....) enquanto a vida nos deixar.....Não há razão para a clausura em relacionamentos fracassados....Dê o melhor de si para que dê certo....e, se possível, para sempre...mas se não der....cada um pra um lado e dê a cada um o que lhe é de direito. 
Recomendo a leitura!!! Longe dos livros de auto-ajuda, embora possa parecer, o livro enquadra-se na espécie Romance, e eu acrescentaria uma subespécie .... é um romance-dramático. Vale a pena!

Priscilla.
(redatora interina)

2 comentários:

  1. Muito bom amor, bom saber que vc acredita em amar outros!

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  2. Oo! Calma..... Pelo amor de Deus não vão discutir a relação aqui no blog, ne?!

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