segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Sobre liberdade!

Sabe aquele livro que te chama a atenção pelo título?

Assim, foi esse..."Cruzando o caminho do sol", do Corban Addison, editora Novo Conceito.

Eu comprei por impulso e ficou aqui na lista das leituras futuras um tempão.

Até semana passada.

Comecei a ler atraída pelo cenário pós tsunami dele, pensando que se alguém sobrevive a um tsunami é porque, realmente, se pode sobreviver a tudo, achando que a grande questão do livro seria a superação daquela tragédia e a reconstrução de uma família, daquele contexto em que os personagens estavam envolvidos e tudo mais.

Não era bem essa a temática central.

Na verdade, o livro é sobre liberdade e, especialmente, a feminina, sem ser feminista ou alardear a chamada cultura do estupro. É sobre algo muito mais básico. É sobre o direito de ir e vir do qual algumas (muitas) mulheres são privadas por traficantes que fazem delas um comércio. É sobre a ilusão de ganhar dinheiro fácil sem atentar para o valor que se perde no processo, é sobre um mercado mais antigo do que a nossa civilização, em que a sexualidade é uma moeda de troca, nem sempre justa. 

É sobre lutar o bom combate...mesmo quando tudo aponta para uma guerra perdida.

O tráfico de mulheres é uma realidade sobre a qual não debatemos o suficiente, mesmo que todo mundo já tenha ouvido falar dela. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimou em 2005 (último levantamento referente ao tema) que o tráfico de pessoas é uma das atividades criminosas mais lucrativas do mundo, envolvendo cerca de 2,5 milhões de vítimas e movimentando aproximadamente U$ 32 bilhões por ano.

As mulheres são larga maioria: 98% dos casos são de tráfico de mulheres para fins sexuais.

Os dados constantes na página do Governo Federal (Portal Brasil) são alarmantes.

E embora a situação narrada no livro esteja no contexto da Índia, logo após a tragédia decorrente do Tsunami, não é difícil imaginar porque o Brasil é parte significativa nesta engrenagem do tráfico, já que as vítimas são todas muito jovens (entre 13 e 25 anos), com pouca escolaridade e nível social muito baixo, normalmente, enganadas com a promessa de uma melhor qualidade de vida.

Não falamos o suficiente sobre isso. Não alertamos o suficiente nossas crianças. Não olhamos com olhos de ver para as pessoas que passam por nós nos aeroportos. Não estamos atentos para números tão alarmantes e que provavelmente nem chegam perto da realidade, porque é um crime silencioso, que envolve cárcere privado, vergonha, medo, etc...

O portal Brasil tem divulgado o número 180 que funciona em vários países para receber denúncias de crimes contra a mulher, um serviço disponibilizado 24h para todos que tenham qualquer tipo de informação sobre um possível caso de exploração ou mesmo que desconfiem terem presenciado qualquer conduta imprópria que possa estar relacionada ao tráfico de pessoas.

É muito pouco. E depois da denúncia? Como reinserir esta mulher na sociedade garantindo a sua segurança? Como evitar que outras passem pela mesma situação? O Tráfico de pessoas, como a pedofilia, só podem ser erradicados com uma conscientização cada vez maior da população sobre os riscos a que todos estamos expostos, sobre como devemos estar atentos no nosso dia-a-dia, levando informação na tentativa de uma prevenção que tem que partir de dentro de casa.

O livro me fez pensar sobre quantas vezes eu mesma poderia estar exposta a esse risco, o quanto eu menosprezo uma coisa tão importante, minha liberdade de trabalhar e viver como bem entender, criar meus filhos, estar com eles, educá-los para não acharem esse tipo de coisa normal.

Há algo de muito errado num mundo em que pessoas ainda são vendidas, mas há algo mais errado ainda na sensação de que isso é só um dado estatístico e de que não há mais nada a fazer.

Esse livro dá vontade de fazer alguma coisa, saber mais sobre isso, buscar um meio de parar essa engrenagem. 

Bom, tomara que essa vontade contagie muitos leitores! O livro merece ser lido e comentado!






Nenhum comentário:

Postar um comentário