quarta-feira, 24 de abril de 2013

Catarina!

Este nome sempre me passou uma força inexplicável: Catarina.
Não gosto especialmente dele, não acho que colocaria na minha filha, mas ele me diz alguma coisa.
O título deste livro: "Catarina, A Grande: Retrato de uma Mulher" (de Robert K. Massie, editora Rocco, 2012.) me atraiu imediatamente.
Trata-se da biografia de Catarina, imperatriz da Rússia, a última mulher a governar este enorme império gelado e cheio de contradições no séc. XVIII (por 34 anos, by the way!)
Apesar da aparente fortaleza, a princesa alemã que chegou à Rússia como Sofia e terminou seus dias como Catarina, a Grande, era uma menina idealista que sonhou até o fim dos seus dias com o amor.
Esta é a minha percepção do livro.
Escrito por um homem, o livro narra seu casamento fracassado (ela permaneceu virgem por nove anos depois de casada) e seus sucessivos relacionamentos extraconjugais como uma excentricidade desta mulher à frente do seu tempo, mas os trechos e transcrições de suas memórias deixam entrever a sua busca por um romance que durasse para sempre...
Em seus escritos (que provavelmente nem deveriam ser lidos de tão íntimos) ela diz com todas as letras ser incapaz de sobreviver um só dia sem amor. Não era o sexo que fazia falta ou levava ao fim de cada relacionamento, mas tudo aquilo que faz uma mulher se sentir amada: companherismo, cumplicidade, carinho e calor humano. Tem coisa mais feminina do que sonhar com o amor para toda vida?
Ela tomou o poder de assalto do verdadeiro herdeiro, seu marido complexado e infantil, levado a renunciar ao trono, mas se redimiu quando fez reformas, avançou fronteiras, colecionou obras de arte, comprou bibliotecas inteiras, construiu cidades e portos, criou universidades e, ao menos, tentou melhorar as condições de servos russos (se é que há alguma diferença entre servidão e escravidão, o que não ficou muito claro para mim até agora...).
Achei interessante perceber que ela foi contemporânea de Maria Antonieta e foi profundamente afetada pelo trágico destino da família real francesa. Suas idéias progressistas advindas dos mestres iluministas com quem mantinha constante correspondência (muitas transcritas no livro) e sua admiração por Montesquieu e seu "absolutismo moderado" são refreados pelo medo de seguir o mesmo caminho que levava à Guilhotina uma rainha que parecia tão acima do bem e do mal em sua época.
São cerca de quinhentas páginas que misturam sonhos, expectativas e frustrações de uma mulher que amadureceu cedo demais (casou-se com 15 anos, tadinha....), ambicionou tudo, concretizou muito, mas não venceu seu sentimento de rejeição, não conseguiu o sucesso mais importante para uma mulher, o sucesso nas relações familiares.
Nunca conseguiu ter um bom relacionamento com os filhos (foram tirados dela assim que nasceram e depois obrigados a conviver com seus amantes) e ainda teve que entregar um deles à família do amante porque já não tinha como justificar a gravidez porque não mantinha relações com o imperador.
Ela tentou amar de todas as formas; mais do isso, tentou se fazer amada, comprando favores com presentes e indicações a títulos de nobreza impensáveis aos seus "queridos amigos", mas no fim das contas suas tentativas não pareciam prosperar...apenas atraíam interesses diferentes.
Apesar de tudo, não morreu uma mulher amarga. Longe disso, teve uma longa vida em que sempre demonstrou grande capacidade de rir de si mesma (e de tudo o mais).
Em uma carta para Grimm, aos 64 anos, já no entardecer da vida, ela escreve: "Há provas da velhice e eu sou uma delas. Mas, apesar disso, gosto tanto quanto uma criança de 5 anos de brincar de cabra cega, e os jovens, inclusive meus netos, dizem que as brincadeiras são muito mais alegres quando brinco com eles. E ainda adoro rir."
No fim, o retrato é mesmo de uma grande mulher, mas de um ser humano antes de tudo.
O livro recebeu o prêmio Pen/ Jacqueline Bograd Weld 2012 de melhor biografia publicada nos EUA em 2011.
É uma ótima dica, mas para quem tem um maridinho compreensivo, porque vc não vai querer parar de ler para nada! nadinha mesmo....e são 500 páginas....rsrsrsrsrsr
Um bom presente para o dia das mães se a sua curte história ou pretende dar uma voltinha pela Rússia, porque o livro descreve paisagens e cenários de uma corte deslumbrante...

(foto de Catarina, a Grande, retirada da Wikipedia)

                                  (vestido da Catarina da Russia, foto tirada do Tripadvisor)

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